[N. Madalena, ilha do Pico, 12.5.1852 ? m. Horta, 2.3.1906] Político e comerciante. Era filho de Maria do Carmo da Silveira e de Miguel António da Silveira (primeiro de nome), um dos açorianos que acompanharam D. Pedro IV e que com ele desembarcaram no Mindelo, merecendo ser cavaleiro da Torre e Espada (Picoense (O), 1906; Telégrapho (O), 1906). Na Madalena, estudou português, latim e francês, dedicando-se depois ao comércio e estabelecendo-se na cidade da Horta (Picoense (O), 1906).
Na política, Miguel da Silveira começou como chefe do Partido Progressista na Madalena onde foi eleito para a Câmara (1869) (Macedo, 1871, 2: 352) e nomeado administrador do concelho (1879). Depois foi eleito procurador à Junta Geral (1880-1881; 1886-1889) e deputado pelo círculo da Horta, em 6 de Março de 1887, reeleito em 20 de Outubro de 1889. Em 1894, voltaria ao parlamento depois de luta eleitoral renhida em que o Partido Progressista, então na oposição, venceu a maioria dos deputados no distrito. A 26 de Junho de 1904 foi novamente eleito deputado, mas renunciou, em 15 de Agosto seguinte, a favor do conselheiro José Maria de Oliveira Matos. No parlamento, defendeu a obrigação do governo nomear progressistas, naturais das ilhas do Faial e do Pico, para os lugares da administração pública no distrito da Horta e conseguiu verbas importantes para estradas e melhoramentos em portos, entre outros (Atlântico (O), 1889; Picoense (O), 1906; Telégrapho (O), 1906; Greaves, 1903; Leite, 1995; 1998).
Também foi governador civil da Horta entre 11 de Fevereiro de 1897 e 20 de Julho de 1899 (Araújo, 2004: 723), pelo que foi agraciado com a Carta de Conselho (1898). Nesta data, quando José Luciano de Castro convenceu o rei a dar-lhe aquela Carta, levantou-se uma tempestade no parlamento em que os progressistas e Miguel da Silveira saíram desprestigiados (cf. Leite, 1995, 1: 54).
Depois de eleito deputado, tornou-se figura notada do Partido Progressista a nível regional, chegando a chefe do partido, no distrito da Horta, após a morte do conselheiro Manuel Francisco Medeiros (1895) (Leite, 1995; 1998).
Foi vogal da Comissão Distrital, provedor da Real Santa Casa da Misericórdia, vice-cônsul da República do Chile e presidente da junta local da Liga Naval (Telégrapho (O), 1906; Picoense (O), 1906).
Por ocasião da sua morte, foi elogiado tanto por jornais que lhe eram afectos como por outros da oposição. Para O Telégrafo (1906) «como homem político, de extraordinária energia e incontestável tino, impôs-se ao respeito dos partidos militantes. Serviu muitos apaniguados: poucos lhe foram fiéis nas ocasiões graves; raros lhe ficaram gratos». Para o Jornal Açoriano (1906) (cf. Movimento (O), 1906) «promoveu descontentamentos e represálias. Não soube ser mais forte e mais estimado, pecou pelo seu feitio e génio ? mas serviu muitos [...]». Para O Picaroto (1906), era um adversário forte, mas inteligente, perspicaz, conhecendo como poucos os homens que o rodeavam; era um lutador intemerato, mas a sua oposição capitulava em tratando-se de assuntos de interesse geral da nossa terra; era um político impetuoso e impulsivo, mas era um carácter no fundo generoso e conciliador.
Miguel da Silveira começou, muito modestamente, a sua vida comercial (Movimento (O), 1906) mas a sua casa comercial havia de se tornar uma das mais sólidas e respeitáveis do distrito (Picoense (O), 1906). Na então Rua de S. Francisco, teve, primeiro, um pequeno estabelecimento de fazendas no n.º 21 (Lucta (A), 1882). Activo e empreendedor, para uns, acusado de poucos escrúpulos e de descarado contrabando com milho americano, por outros, em poucos anos alargou, consideravelmente, o seu negócio a um estabelecimento de vendas por grosso, no n.º 7 daquela rua, e a várias representações comerciais, de entre as quais a correspondência com o Banco de Portugal (cf. Lagense (O), 1890) e a agência da Companhia de Seguros Bonança (Picoense (O), 1906). Quando, em 1898, foi instalada a agência daquele banco na Horta, tornou-se no seu primeiro agente.
Caído nas boas graças de Mariano de Carvalho, então ministro da Fazenda, com quem muito conviveu, foi por este encarregado da règie dos tabacos nos Açores. Data daqui a sua grande prosperidade e importância política a ponto de se tornar o político e o comerciante mais popular e mais influente em todo o distrito. Desenvolveu também em grande escala o comércio da exportação de cereais (Jornal Açoreano, cf. Picoense (O), 1906; Movimento (O), 1906).
Homem de poucas letras, era um arrebatado. As suas fúrias ficaram célebres pelas ruas da cidade da Horta. Chamavam-lhe o «homem das botas» (cf. Leite, 1995, 1: 53-54).
A antiga Rua da Areia ou Rua do Mar, junto à orla litoral da cidade da Horta antes de construída a actualmente denominada avenida 25 de Abril, tem o nome «Conselheiro Miguel da Silveira» por decisão da Câmara Municipal da Horta de 19 de Janeiro de 1905 (Biblioteca Pública e Arquivo da Horta, Câmara Municipal da Horta, Vereações, Liv. 52: 18 v). Na Madalena do Pico, a antiga Rua do Valverde tem o seu nome desde Janeiro de 1905, por decisão da Câmara Municipal daquele concelho (cf. Duarte, 2000: 161). Luís M. Arruda
Fonte: Biblioteca Pública e Arquivo da Horta, Câmara Municipal da Horta, Vereações, Liv. 52.
Bibl. Araújo, V. (2004), Memórias de um povo. S.l., E. do Autor. Atlântico (O) (1889), Horta, nº 1402, 5 de Outubro, Deputados progressistas [acção parlamentar de Miguel da Silveira]. Duarte, T. (2000), A Matriz da Madalena e três dos seus prelados. Madalena, Câmara Municipal da Madalena. Greaves, M. (1903), Miguel António da Silveira, in Álbum Açoriano. Lisboa, Oliveira e Baptista eds.. Lagense (O) (1890), Lages do Pico, n.º 2, 17 de Agosto, Banco de Portugal [anúncio do Banco de Portugal]. Macedo, A. L. S. (1871), História das quatro ilhas que formam o districto da Horta. Horta, Typ. de L. P. da Silva Correa. [Reimpressão fac-similada da edição de 1871, Angra do Heroísmo, Secretaria Regional da Educação e Cultura, Direcção Regional dos Assuntos Culturais, 1981]. Movimento (O) (1906), Velas, S. Jorge, n.º 39, 20 de Março, Conselheiro Miguel António. Picaroto O (1906), Madalena, Pico, n.º 32, 15 de Março, [Cons. M. A. da Silveira]. Picoense (O) (1906), S. Roque, Pico, 2.ª série, n.º 9, 11 de Março, [O conselheiro Miguel António da Silveira]. Leite, J. G. R. (1995), Política e administração nos Açores, de 1890 a 1910. O primeiro movimento autonomista, Ponta Delgada, Jornal de Cultura. Id. (1998), A eleição para deputados no círculo eleitoral da Horta, em 1889, in O Faial e a periferia açoriana nos séculos XV a XX. Horta, Núcleo Cultural da Horta: 197-208. Telégrapho (O) (1906), Horta, n.º 3649, 3 de Março, Cons. Miguel da Silveira [notícia da morte].