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bagacina

GEOLOGIA Designação popular atribuída no arquipélago dos Açores (na Madeira diz-se areão) aos materiais piroclásticos (fragmentos vulcânicos emitidos de um modo explosivo) de pequena dimensão; coincide aproximadamente com os materiais designados na nomenclatura geológica pelo termo latino lapilli (singular lapillus), que significa ?pequenas pedras?.

Do ponto de vista vulcanológico, os lapilli correspondem aos fragmentos piroclásticos de granulometria média (2 a 64 mm), com dimensão superior à das cinzas e poeiras vulcânicas e inferior à das bombas e blocos.

A palavra lapilli não contém qualquer conotação relativamente à composição química (litologia) da rocha que constitui o fragmento piroclástico; pelo contrário, o termo bagacina é utilizado para designar partículas piroclásticas de composição básica ou intermédia (basaltos, havaítos, benmoreítos), e nunca para nomear os fragmentos de pedra pomes, de composição ácida (que nos Açores tem geralmente natureza traquítica).

A bagacina é constituída por fragmentos lávicos muito vesiculares (cavidades criadas pela exsolução dos gases magmáticos) e apresenta cores negra, acinzentada ou avermelhada (quando aqueles materiais se encontram bastante alterados).

Os cones vulcânicos das ilhas açorianas (os das ilhas do Pico e S. Jorge, os da zona do Capelo, no Faial, os da região a norte de Ponta Delgada, em S. Miguel, para citar apenas alguns exemplos) são constituídos por acumulações de bagacina, bombas e blocos. Estes materiais correspondem à fracção da lava expelida de um modo explosivo no decurso das erupções do tipo havaiano e/ou estromboliano que originaram aqueles edifícios vulcânicos. A maior parte da bagacina acumula-se em torno das bocas eruptivas, edificando um cone, enquanto que outra parte, conjuntamente com as partículas mais finas (cinzas e poeiras), pode ser transportada pelo vento a maiores distâncias formando um nível de espessura variável que cobre a topografia.

A bagacina é explorada como material de construção, sendo utilizada principalmente como brita na pavimentação de estradas de macadame ou como inerte em aglomerados. Frequentemente verifica-se uma gestão pouco cuidada deste recurso natural, com a exploração simultânea de vários cones, com a consequente degradação da paisagem.

O termo bagacina (ou ainda bagaço) parece derivar da palavra bago, por se tratar de pequenos fragmentos de rocha. Ver piroclastos. José Madeira (Abr.1998)

LINGUÍSTICA Também pronunciado bagacinha. Cf: «Também a terra as prende - o hálito quente da bagacina e do funcho nas noites de luta quieta, o rumor dos laranjais de fresco movimento recolhidos ao abraço dos muros de basalto» ou «Cobria-os então um tapete de bagacina vermelha, hoje esburgado, e era ao longo deles que Maria das Angústias, meio governanta meio ama, empurrava o carrinho de rodas de borracha ...» (Nemésio, MTC: 11). João Saramago e José Bettencourt (Jul.2000)

Bibl. Figueiredo (1991), Grande Dicionário da Língua Portuguesa. 24ª ed., Lisboa, Liv. Bertrand. Melo, J. (1978), Antologia panorâmica do conto açoriano: séculos XIX e XX. Lisboa, Vega.