Governo dos Açores - Secretaria Regional da Educação, Ciência e Cultura - Direção Regional da Cultura

Miranda, Sacuntala de

[N. Ponta Delgada, 1934] Filha de Lúcio de Miranda, goês, professor de matemática do liceu de Ponta Delgada e de uma senhora micaelense, ainda criança acompanhou os pais à Índia, onde a família tencionava fixar-se, mas regressaram em 1942. Viveu então por pouco tempo no Funchal, regressando por fim a Ponta Delgada, onde estudou no liceu e terminado este matriculou-se na Faculdade de Letras de Lisboa, onde se licenciou em Ciências Históricas Filosóficas (1959). Ainda estudante iniciou uma militância nos meios políticos da oposição ao fascismo e ao colonialismo e trabalhou como redactora na revista Eva. Foi regente de estudos no Colégio Moderno e deu aulas na Sala de Estudo André de Resende. Acabou presa pela PIDE mas participou activamente na agitada campanha de Humberto Delgado, em 1958.

Em 1960 partiu com a família para um longo exílio na Inglaterra, onde foi destacada resistente à ditadura portuguesa, com participação política e cultural junto dos emigrantes. Esteve também na Argélia (1964-1965). Trabalhou então nos mais variados empregos e também na Biblioteca da Universidade de Londres. Foi assistente de investigação no Departamento de Sociologia da Universidade de Essex. Licenciou-se então em Sociologia em Londres e foi assistente do Departamento de Investigação do Sindicato dos Transportes.

Depois do 25 de Abril, mas já em 1975, regressou a Portugal e trabalhou na Secretaria de Estado da Emigração, durante os governos provisórios, considerando-se saneada com a queda do 5.º governo, de Vasco Gonçalves. Passou a trabalhar no Centro de Investigação Pedagógica do Instituto Gulbenkian de Ciência e foi consultora da Open University inglesa sobre os sistemas educativos dos países periféricos.

No início da década de oitenta retomou a carreira universitária, como assistente na Universidade Nova de Lisboa e depois professora do Departamento de História, onde sob a orientação do Professor A. H. Oliveira Marques fez o doutoramento com uma investigação acerca das relações económicas entre Portugal e a Inglaterra (1891-1939), tema que já havia iniciado em Londres sob a orientação do Professor E. J. Hobsbawn.

Tem-se afirmado como escritora memoralista, com uma autobiografia intitulada Memórias de um peão nos combates pela liberdade, onde faz revelações e análises da resistência antifascista em Lisboa e na Inglaterra da maior importância para a compreensão deste conturbado período.

É uma notável historiadora de temas de história económica e de história política e da emigração, sendo a sua historiografia marcada pelas opções ideológicas da esquerda do marxismo. Entre as suas obras destacam-se as duas teses, a de licenciatura, sobre a revolução de Setembro de 1836, pioneira nos estudos da política portuguesa do século XIX, e a de doutoramento, sobre a dependência económica portuguesa entre 1890 e 1939.

Tem ainda contribuído para o estudo da história açoriana, nomeadamente com participação em colóquios na ilha de S. Miguel, de onde se destaca um ensaio referente ao «ciclo da laranja» entre 1780-1880, que é a mais completa visão de conjunto sobre este tema central da economia e sociedade micaelense nos séculos XVIII e XIX e estudos sobre a emigração e movimentos de revoltas populares. J. G. Reis Leite

Obras principais. (s.d.), Portugal. O círculo vicioso da dependência (1890-1939). Lisboa, Teorema. (s.d.), Quando os sinos tocavam a rebate. Lisboa, Salamandra. (s.d.), A emigração portuguesa e o Atlântico 1870-1930. Lisboa, Salamandra. (1982), A Revolução de Setembro de 1836 ? geografia eleitoral. Lisboa, Livros Horizonte. (1989), O ciclo da laranja e os ?gentleman farmers? da ilha de S. Miguel, 1780-1880. Ponta Delgada, Instituto Cultural de Ponta Delgada.

 

Bibl. Memórias de um peão nos combates pela liberdade (2003). Lisboa, Edições Salamandra.

 

 

Adenda
[(…) – m. Cascais, 30/01/2008]. Ranu Costa (2022)