Campeonato regional de botes baleeiros - tradição, memória e identidade
A recuperação do património baleeiro móvel dos Açores – botes e lanchas de reboque –, iniciada nos finais dos anos 90, constitui-se como um exercício de lucidez política e cultural, e de reconhecimento da importância do mar e dos barcos na nossa vivência insular. Deve ser considerada como, provavelmente, o mais emblemático projeto de reabilitação patrimonial, ao serviço das comunidades, realizado nos últimos anos em Portugal.
As regatas de botes baleeiros açorianos, como forma de celebração da nossa relação épica e mítica com o mar e com as baleias, remontam ao período da baleação. Realizavam-se em alguns portos baleeiros, associadas, sempre, a momentos festivos e comemorativos. A Visita Régia, em 1901, à cidade da Horta, foi celebrada com a realização de uma regata de botes baleeiros, facto que atesta a importância destas competições nestes contextos celebrativos.
Hoje, marcadas por uma forte dimensão cultural, desportiva, lúdica, turística e de educação ambiental, constituem uma imagem de marca da cultura açoriana.
Considerando que é do superior interesse da Região consolidar esta prática desportiva em todas as ilhas, bem como aprofundar a dimensão regional de todo o movimento de recuperação e reutilização deste património baleeiro, entendeu a Direção Regional da Cultura promover e apoiar a realização anual de um Campeonato Regional de Botes Baleeiros, nos Açores.
Em 2016, com caráter inédito e em modelo inaugural, as provas decorreram na ilha das Flores. Estiveram presentes embarcações (treze botes e duas lanchas de reboque) e companhas de toda a Região, numa manifestação rara de afirmação identitária do todo regional.
Este ano, a 2ª edição do Campeonato Regional de Botes Baleeiros, à Vela e Remo, decorrerá nos dias 8 e 9 de julho, na ilha de Santa Maria. Provenientes de 8 ilhas, estarão presentes doze botes, duas lanchas de reboque e cerca de cento e quarenta e quatro participantes nas modalidades de vela, remo masculino e remo feminino.
O património assume, assim, a sua condição de coisa viva, propriedade legítima da comunidade. Estimula saberes, experiências, aprendizagens e a coesão intergeracional, ligando o Arquipélago.
Saibamos, todos juntos, aproveitando esta liturgia da memória baleeira, refundar o presente e construir o futuro, sobre o lastro de um passado que nos orgulha, nos identifica e nos internacionaliza no mundo.