Quinhentos anos depois do nascimento de Gaspar Frutuoso, o Museu Carlos Machado realiza uma exposição que revela a faceta científica do notável cronista açoriano, autor dos livros Saudades da Terra. A exposição parte das suas descrições da natureza, que são ilustradas com exemplares da coleção de história natural, com amostras recentes e recorrendo a tecnologias da atualidade.
Gaspar Frutuoso nasceu em 1522, em Ponta Delgada, na ilha de São Miguel, tendo falecido na Ribeira Grande, em 1591. Estudou na prestigiada Universidade de Salamanca, onde obteve o grau de bacharel em Artes e Teologia. Terá obtido o grau de doutor na Universidade de Évora, por volta do ano de 1565, altura em que regressa a São Miguel e se fixa na Ribeira Grande.
Da sua produção literária destacam-se as Saudades da Terra, cuja redação iniciou na década de 1580. Esta obra trata de diversos assuntos como o descobrimento, o povoamento, a história, as genealogias, a toponímia, a geologia, a fauna e flora. O Livro I contempla, essencialmente, os arquipélagos das Canárias e de Cabo Verde; o Livro II trata do arquipélago da Madeira; o Livro III aborda a ilha de Santa Maria; o Livro IV é dedicado à ilha de São Miguel; o Livro V, provavelmente escrito anteriormente, é uma ficção conhecida como a História de Dois Amigos, e o Livro VI centra-se nas ilhas do grupo central e ocidental do arquipélago dos Açores.
Nas Saudades da Terra, Gaspar Frutuoso dedica especial atenção à fauna e flora dos arquipélagos atlânticos, bem como aos seus fenómenos naturais, que descreve impulsionado pelo seu espírito científico:
“(…) porque quem não entende nada, assim como não duvida nada, não procura saber o que não duvida e desta maneira fica ignorante, por não se saber maravilhar e duvidar das coisas que vê, da qual admiração e dúvida nasce a inquirição delas, e da inquirição a experiência, e da experiência a memória, e de muitas memórias a ciência.”
Gaspar Frutuoso, Livro II, Cap. 5