Celebrando o centenário da que ficou conhecida como a Visita dos Intelectuais ao arquipélago açoriano, a Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada irá inaugurar uma exposição intitulada 1924: a visita. A rubrica deste mês alia-se a esta efeméride, apresentando um dos documentos expostos – uma prova fotográfica duma das diversas excursões protagonizadas pela Comissão de Recepção e seus ilustres convidados.
A também conhecida como Visita dos Continentais realizou-se entre 27 de maio e 22 de junho de 1924, a convite do diretor do Correio dos Açores, José Bruno Tavares Carreiro. A primeira ilha a ser visitada foi a de São Miguel, onde os convidados iriam permanecer a maior parte do tempo (de 27 de maio a 12 de junho e a 21 deste mês, numa breve paragem aquando do regresso a Lisboa). No dia 30 de maio, o roteiro previsto e concretizado pela Comissão (atendendo a que nem sempre foi este o caso), era uma excursão às Cumeeiras das Sete Cidades, uma merenda no alto das Cumeeiras, seguida da descida pela Lomba da Cruz, e, à noite, um espetáculo de circo, organizado pela direção do Coliseu Micaelense[1]. A excursão seguiu em 10 automóveis. Na subida da montanha, “quasi todos montaram em burros”[2], outros seguiram a pé ou em char-à-bancs puxado por bois[3], cedido pelo proprietário Nicolau Maria Raposo d’Amaral.
Na prova fotográfica em destaque, pode-se identificar José Bruno Tavares Carreiro (fundador e diretor do jornal Correio dos Açores, à esquerda) e Armando Boaventura (jornalista do jornal A Época, à direita), que, na subida para as Sete Cidades, optaram pelo transporte em burros[4].
Além do conjunto documental, do Arquivo Tavares Carreiro, constituído por documentos textuais e iconográficos[5] relativos a este evento, aconselha-se a leitura das obras Mês de sonho, de J. Leite de Vasconcelos[6], e Terras de maravilha: os Açores e a Madeira: notas de uma viagem de estudo[7], de Oldemiro Cesar, que aludem à visita e a descrevem, incluindo esta excursão (p. 132-195 e p. 75-89, respetivamente).
[1] Vide Correio dos Açores. Ano V (n.º 1185) 31 mai. 1924.
[3] Tradução livre “carruagem com bancos”. Trata-se de um tipo de veículo de tração animal, geralmente de caixa aberta, com bancos dispostos em filas e virados para a frente, normalmente utilizados para grandes grupos e especialmente popular para passeios turísticos.