A Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada promove a exposição intitulada Dias de Melo: fumo do meu cachimbo, a partir de 23 de abril de 2025, comemorando o centenário do nascimento do escritor, referência incontornável da cultura açoriana.
Comissariada por Patrícia Dias de Melo, a exposição torna pública a vida e obra do autor, numa narrativa que integra documentos, livros e objetos que lhe pertenceram, em diálogo com o acervo da Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada. Através de uma linguagem estética contemporânea foram escolhidos títulos de alguns dos seus livros para cada núcleo expositivo, enquadrando os aspetos diversos da sua personalidade, vida e obra.
José Dias de Melo nasceu a 8 de abril de 1925 na Calheta de Nesquim, no Pico, e morreu em Ponta Delgada, aos 83 anos. Facilmente reconhecido pelo seu cachimbo, foi escritor, baleeiro, professor do ensino primário e do ensino técnico. «Desastre no Canal» foi a sua primeira aventura na escrita que deu origem à obra Mar pela Proa, sendo Toadas do Mar e da Terra (1954) a primeira incursão na poesia. Colaborou em jornais regionais (Correio dos Açores e Açoriano Oriental) e nacionais (Diário de Notícias; Diário de Lisboa). A sua longa carreira conta com uma obra eclética de mais de 30 livros publicados. Fez recolha etnográfica, que se reflete na sua escrita (como em Na Memória das Gentes, de 1990 e 1992), publicou romances, contos, poesia, crónicas e relatos de viagem, tendo sempre em conta a visão do homem açoriano, de uma forma geral, e a do baleeiro de uma forma particular e muito própria, já que também ele era um orgulhoso filho das ilhas e um (esporadicamente) caçador de baleias.
Pode enquadrar-se no movimento neorrealista, aproximando-se de autores como John Steinbeck, pelo qual nutria especial interesse. Aquilino Ribeiro, Guerra Junqueiro, Tolstoi e Antero de Quental foram autores cujos temas e estilos marcaram Dias de Melo, conforme ele próprio afirma.
A sua aproximação à terra e ao difícil trabalho no mar e às gentes que habitavam estes espaços, faziam adivinhar a sua militância política ainda durante o Estado Novo. A vivência em democracia não diminuiu a sua postura interventiva e humanista, que se manifestou maioritariamente através da escrita.
José Dias de Melo foi, até ao fim, coerente na forma como via o mundo, sempre através da lente da insularidade e da vivência das gentes das lhas açorianas.
A inauguração da exposição será pelas 18h00, com entrada livre.