Governo dos Açores - Secretaria Regional da Educação, Ciência e Cultura - Direção Regional da Cultura

guerra do ultramar - guerra colonial

1 Por guerra do ultramar ou colonial, consoante a opção ideológica, assim ficou conhecido o período em que Portugal andou envolvido em combates nas ex-colónias a partir de 1961. Mas os confrontos nas possessões ultramarinas foram bem anteriores, como resultado do processo de colonização encetado. A submissão dos povos autóctones não foi pacífica e teve a sua maior resistência logo no século XIX, quando se deu a ocupação efectiva dos territórios. Deste modo, é possível registar confrontos em Timor, entre 1847-1913; na Guiné, entre 1841-1936, ou em Moçambique, entre 1854-1916. Numa dessas campanhas, Mouzinho de Albuquerque aprisionou *Gungunhana, que acabou por ser desterrado com outros companheiros para a Terceira, onde faleceram. Em Angola, entre 1845-1926, várias operações foram desencadeadas, seguindo-se outras incursões em 1940-1941. Depois da II Guerra Mundial, alterou-se o contexto internacional, com o apoio generalizado aos movimentos de libertação que entretanto foram surgindo por todo o continente africano. Ao contrário do que sucedera com outras potências colonizadoras europeias, o governo português recusou o diálogo com os movimentos de libertação, o que conduziu ao confronto armado. Esses movimentos, apoiados por outros países recém-independentes, acabaram por abrir frentes de luta, que se prolongaram de 1961 a 1974. As hostilidades iniciaram-se em Angola, com um assalto à cadeia de Luanda, em Fevereiro de 1961, por um grupo de nacionalistas. A partir de então, foram criados o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), a União das Populações Angolana (UPA), que deu origem à Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), e a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), que acabou por se tornar uma aliada dos portugueses. Na Guiné, o Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), iniciou as operações em 1963, para dez anos depois proclamar a independência, em Medina do Boé, zona libertada, e que foi apoiada por cerca de 80 Estados. Em Moçambique, a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), fundada em 1962, iniciou os combates armados a partir de 1964, com especial incidência na zona Norte e prolongamento até ao centro do país. O impacto da guerra afectou internacionalmente o governo português que foi abandonado pelos aliados da NATO e pela Espanha, preferindo continuar «orgulhosamente só». Perante um teatro de guerra tão alargado, o governo português viu-se obrigado a aumentar as despesas com as forças armadas que chegaram a atingir 55% do orçamento metropolitano. Durante os vários anos de guerra, terão morrido cerca de 8.900 militares, foram feridos cerca de 32 mil, numa mobilização total de cerca de 820.000. A nível interno, a guerra colonial permitiu aos oposicionistas encetarem plataformas de acção que proporcionaram a mobilização de amplas camadas da população contra a guerra. A nível económico, a difícil situação reflectiu-se nos elevados índices de emigração, entre a qual se deve ter em conta a fuga de mancebos à guerra. A nível militar, as sequelas da guerra acabaram por originar a criação do Movimento dos Capitães que deu origem à derrocada do regime em 25 de Abril de 1974.

Em relação aos Açores, a guerra colonial produziu os mesmos efeitos registados no resto do país: para além das perdas humanas, muitos jovens ficaram física e psicologicamente afectados, bem como famílias destroçadas pela dor, durante todos aqueles anos. A imprensa açoriana deu grande cobertura ao acontecimento, nos primeiros anos. Eivada de um espírito nacionalista, justificava a mobilização pelos sagrados princípios de um país plurirracial e pluricontinental, que tinha a nobre missão de levar a fé católica e a civilização a povos espalhados pelo sertão africano. A riqueza das colónias, principalmente Angola, foi outro isco lançado para justificar a permanência portuguesa nos territórios, dando a entender que a situação económica nacional se degradaria com a possível independência dos mesmos. Por tudo isso, as partidas ou as chegadas de soldados foram momentos de grande encenação, organizados pelas autoridades locais. Em Angra do Heroísmo ou em Ponta Delgada, onde se concentravam os maiores quartéis, realizavam-se missas campais, desfiles pelas ruas, onde eram entregues guiões em frente das Câmaras Municipais, na presença das autoridades militares, civis e religiosas. À chegada, promoviam recepções junto ao cais, alguns deles com a presença de andores com a imagem de Nossa Senhora de Fátima, a que se seguiam desfiles. Mas nos finais dos anos Sessenta, a própria imprensa mais afecta ao regime, revelava já alguma falta de entusiasmo na campanha patriótica. A partir de então, também nas ilhas, algumas vozes se foram levantando contra a guerra colonial. Nas eleições de 1969, o programa da candidatura dos deputados pela Comissão Democrática Eleitoral, em Ponta Delgada, referia que deviam ser dadas garantias à Assembleia Nacional para debater com toda a liberdade questões fundamentais da vida da Nação, «incluindo a questão ultramarina que tem sido desde 1961, e continua a ser, o problema mais grave da vida portuguesa». Nas mesmas eleições, o candidato independente a deputado pela União Nacional, Mota Amaral, revelando algumas divergências no seio do próprio regime, defendeu que «a solução do conflito há-de ser procurada, energicamente, por meios políticos. É preciso conquistar a paz para a África portuguesa» (Diário dos Açores, 17 de Outubro de 1969). Apesar do controlo da censura e da vigilância da PIDE, o debate prosseguiu com alguma contenção, como se pode constatar na imprensa da altura, mas nas eleições seguintes de 1973, as posições clarificaram-se. Os documentos da Comissão Democrática Eleitoral de Ponta Delgada, são bem explícitos, falando da «guerra colonial (ou melhor, as três guerras que o regime prossegue em África)» e defendem que o «fim da guerra colonial e uma solução política do problema na base do reconhecimento do direito dos povos à sua autodeterminação e independência é a única solução justa». Nos anos Setenta, começaram a chegar às ilhas panfletos sobre a guerra colonial, produzidos nos meios universitários, que eram levados ou enviados pelos estudantes. Nos últimos anos do regime era já nítido o descontentamento pelo prolongamento da guerra, nomeadamente nas camadas mais jovens. A guerra colonial acabou também por se reflectir na literatura produzida por alguns escritores açorianos, uma geração que iniciou os seus primeiros ensaios na revista *Glacial e noutros suplementos literários da imprensa. Entre eles, cite-se os romances de Cristóvão de *Aguiar, João de Melo e Álamo Oliveira.

Logo que se iniciou a guerra, foi criada em Lisboa a Comissão de Apoio ao Soldado Açoriano (CASA), com sede na Casa dos Açores. Uma iniciativa de Urbano Maria Mendonça Furtado, sendo a comissão presidida por Maria Adelaide da Costa Nunes Serrão dos Reis, que funcionava nos moldes do Movimento Nacional Feminino. Tinha por missão auxiliar os soldados na sua passagem por Lisboa, na ida e na volta, os que se encontravam hospitalizados ou os que prestavam serviço em unidades do continente. Nas suas iniciativas, distribuíam cigarros oferecidos pelas fábricas açorianas Micaelense, Estrela ou Flor d?Angra, bem como «outras lembranças e palavras de conforto» (Açores, 9 de Fevereiro de 1967) ou ainda um serviço de «madrinhas». A Comissão Central de Lisboa, abriu depois delegações e subdelegações nas ilhas. Os fundos da Comissão eram escassos, dado que a comunidade açoriana residente no continente não respondeu ao apelo. Por isso, promoveram chás «canasta» e verbenas, com venda de peças de artesanato. Esta comissão criou um aerograma próprio com a sigla e o emblema da CASA, que funcionou de acordo com as regras dos que haviam sido criados pelo Movimento Nacional Feminino. Carlos Enes

2 As ilhas dos Açores foram, desde cedo, um importante alforge de recrutamento de tropas para as guerras do Império ? África, Brasil, Oriente. Momentos particularmente significativos ocorreram na fase final do domínio filipino, na segunda metade do século XVIII, na formação do Exército* Libertador e, já nos nossos dias, durante a Guerra Colonial ou Guerra do Ultramar.

Durante a I Grande Mundial, não se formaram Unidades expedicionárias nos Açores. A participação de Açorianos nas operações em França restringiu-se a militares dos quadros permanentes ou a jovens do Arquipélago residentes ou a estudar no Continente. Durante a II Grande Guerra, foram os soldados continentais que, em força, tomaram posições nos Açores, nomeadamente no Faial, na Terceira, em São Miguel e Santa Maria. Porém, mal acabara a guerra, nos Açores foi mobilizado um batalhão ? Batalhão Expedicionário dos Açores ? com uma companhia do Batalhão Independente de Infantaria N.º 17 (BII 17), o restante contingente do Batalhão de Infantaria N.º 18 (BII 18), que durante dois anos ficou em Angola (1946-1948). Cerca de uma década mais tarde, soldados açorianos voltariam a partir para o Ultramar em missão de soberania, agora para o Estado da Índia, primeiro uma companhia expedicionária do BII 17 (18NOV57 a 27FEV60), depois, igualmente uma companhia expedicionária do BII 18 (1959-1961). Para o período correspondente às lutas que precederam a independência dos territórios ultramarinos da Guiné, Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde e Timor, e enquanto não é feito um estudo minimamente aprofundado e rigoroso sobre a participação dos Açores no esforço de guerra ou ocupação militar neste estertor final do Império, ficam aqui apenas alguns dados, com números ainda provisórios, a suscitar um universo de questões, sobretudo de natureza sociológica, económica e política.

Sediadas em São Miguel e Terceira as duas Unidades operacionais de Infantaria ? BII 18, nos Arrifes, e BII 17, em Angra do Heroísmo ?, coube-lhes a missão de procederem à incorporação, instrução e mobilização dos corpos ? batalhões e companhias de caçadores (C. Caç. e B. Caç.) ? que seriam enviados para os campos de combate da Guiné, Angola e Moçambique.

Nos batalhões de Infantaria insulares apenas funcionavam escolas de praças que ministravam principalmente a instrução das especialidades combatentes próprias da Arma; os quadros eram formados nas Escolas Práticas e Centros de Instrução, no Continente, bem como grande parte das especialidades não combatentes de apoio às forças de combate. Enquanto o contingente de praças incorporadas nas Unidades açorianas provinha do recrutamento regional, os quadros tinham por base o recrutamento nacional. Os mancebos açorianos com habilitações académicas adequadas ao ingresso nas classes de sargentos e oficiais, eram necessariamente incorporados em Unidades continentais, sendo, terminada a formação militar, distribuídos a nível nacional, conforme a classificação obtida no final do curso e as preferências por si manifestadas. Em Unidades do Continente eram, igualmente, instruídas as praças, maioritariamente naturais do Continente, mas também algumas idas dos Açores, em especialidades não directamente combatentes, que integravam os corpos mobilizados pelas Unidades açorianas. Ainda no recrutamento regional tinham origem as praças formadas pelo Centro de Instrução de Condução Auto ? Bateria de Artilharia de Guarnição N.º 1 de Ponta Delgada, destinadas às Unidades mobilizadoras. Mancebos açorianos para a Força Aérea, Marinha, e ainda para algumas especialidades do Exército específicas de Cavalaria, Artilharia, Engenharia, Transmissões, Serviço de Saúde e Administração Militar, ou para as tropas especiais ingressavam como recrutas nas Unidades próprias do Continente. No Continente, faziam a sua formação académica, os jovens açorianos candidatos aos quadros permanentes das Forças Armadas, que vieram a prestar serviço no Ultramar.

É muito difícil definir com precisão o número de Açorianos mobilizados para as antigas colónias. Os elementos de consulta encontram-se dispersos, e integrados em arquivos de abrangência nacional, geralmente necessitando de informação cruzada. A investigação teria, assim, que compulsar todos os processos individuais de militares incorporados a nível nacional, incluindo territórios ultramarinos, arquivados em diversos departamentos dos três Ramos das Forças Armadas e na Guarda Nacional Republicana, nos anos correspondentes ao período em análise. Daí a reserva nas estimativas seguintes, feitas a partir das fontes para cada uma identificadas e dos recenseamentos efectuados na Região ? excepção para os Açorianos ao tempo residentes nos territórios ultramarinos e aí recenseados, cujos processos vieram a recolher aos Distritos de Recrutamento e Mobilização (DRM) da área de naturalidade, mas cujo montante não é relevante nos valores finais, salvo nalgumas freguesias, como é o caso da Ribeira Seca, concelho da Calheta, reflectindo a emigração para Angola da década de cinquenta ?, provavelmente sempre a pecarem por defeito, e parciais porque limitadas às fontes identificadas, se bem que as mais significativas e determinantes.

Duma leitura comparativa do mapa com os valores achados nos censos (INE) de 1960 e 1970 para a população nacional abrangida pelo SMO, respectivamente, para a década e quinquénio seguintes ? na falta de informação precisa sobre a população efectivamente residente nesses anos ? resulta um esforço de incorporação nos Açores idêntico ao verificado no território continental, mas superior ao da Madeira. Facto este que, intuímos, se deverá à dispersão geográfica das ilhas açorianas e, principalmente, à evolução da história regional que determinaram a existência neste arquipélago de duas Unidades do Exército mobilizadoras. Resulta, ainda, que, durante os primeiros dez anos da guerra, foram incorporados, em média, cerca de 75% dos jovens das respectivas classes nos Açores e Continente, 50% na Madeira, para nos últimos anos atingir cerca de 90% nos Açores e Continente ? com ligeira vantagem, ou prejuízo, para os Açores ?, cerca de 7% menos na Madeira. Deste contingente incorporado saíram os combatentes para o Ultramar.

Unidades mobilizadas pelo Batalhão de Infantaria Independente n.º 17

Comando Territorial Independente da Guiné (CTIG):

C. Caç. 273 ? 23JAN62 a 16JAN64

C. Caç. 1438 ? 24AGO65 a 17ABR67

C. Caç. 2753 ? 17AGO70 a 26JUN72

C. Caç. 2754 ? 20JUL70 a 06JUN72

C. Caç. 3326 ? 26JAN71 a 06JAN73

C. Caç. 3327 ? 26JAN71 a 06JAN73

C. Caç. 3328 ? 26JAN71 a 06JAN73

C. Caç. 3414 ? 02JAN71 a 22SET73

C. Caç. 4740 ? 21JUN72 a 02AGO74

C. Caç. 4743 ? 03JAN73 a 31AGO74

C. Caç. 4745 ? 08JUL73 a 08SET74

C. Caç. 4747 ? 05JAN74 a 12SET74

Região Militar de Angola (RMA):

Companhia Expedicionária ? 05MAR46 a 11JAN48

C. Caç. 110 ? 14MAI61 a 03JUL63

C. Caç. 194 ? 22JUL61 a 26OUT63

C. Caç. 382 ? 04DEZ62 a 22NOV64

C. Caç. 1437 ? 30AGO65 a 11SET67

C. Caç. 1737 ? 14AGO67 a 05OUT69

C. Caç. 1738 ? 14AGO67 a 05OUT69

C. Caç. 2488 ? 20JAN69 a 16FEV71

C. Caç. 2564 ? 21JUL69 a 10AGO71

C. Caç. 2565 ? 21JUL69 a 10AGO71

C. Caç. 2566 ? 21JUL69 a 11AGO71

C. Caç. 2674 ? 06ABR70 a 17ABR72

C. Caç. 2675 ? 05ABR70 a 18ABR72

C. Caç. 2676 ? 05ABR70 a 22ABR72

C. Caç. 2677 ? 05ABR70 a 24ABR72

C. Caç. 3412 ? 09AG071 a 05OUT73

C. Caç. 3413 ? 09AGO71 a 01OUT73

C. Caç. 3510 ? 10FEV72 a 17ABR74

C. Caç. 3511 ? 11FEV72 a 19ABR74

C. Caç. 4741 ? 03SET72 a 24SET74

C. Caç. 4742 ? 24MAR73 a 17DEZ74

C. Caç. 4744 ? 25AGO73 a 21FEV75

C. Caç. 4746 ? 05MAR74 a 23JUN75

C. Caç. 4741 ? 04AGO74 a 24SET75

C. Caç. 4742 ? 23OUT74 a 04OUT75

Região Militar de Moçambique (RMM):

C. Caç. 2421 ? 21AGO68 a 21AGO70

C. Caç. 2422 ? 21AGO68 a 23SET70

C. Caç. 2755 ? 24AGO70 a 15SET72

Regista-se, ainda, a presença de forças mobilizadas pelo BII 17 no Comando Territorial Independente de Timor ? C. Caç. 3522 (19FEV72 a 06JUL74).

Unidades mobilizadas pelo Batalhão de Infantaria Independente n.º 18

Comando Territorial Independente da Guiné (CTIG)

C. Caç. 274 (E) ? 31JAN62 a 15JAN64

C. Caç. 2444 ? 15NOV68 a 19AGO70

C. Caç. 2445 ? 15NOV68 a 19AGO70

C. Caç. 2527 ? 30MAI69 a 16MAR71

C. Caç. 2636 ? 28OUT69 a 05SET71

C. Caç. 2637 ? 28OUT69 a 05SET71

C. Caç. 2725 ? 11ABR70 a 25FEV72

C. Caç. 2726 ? 17ABR70 a 26FEV72

C. Caç. 2789 ? 03OUT70 a 28SET72

C. Caç. 2790 ? 03OUT70 a 29SET72

C. Caç. 3476 ? 30SET71 a 15DEZ73

C. Caç. 3477 ? 30SET71 a 12DEZ73

C. Caç. 4840 ? 05ABR74 a 01OUT74

Região Militar de Angola (RMA)

C. Caç. 111 ? 14MAI61 a 03JUL63

C. Caç. 195 ? 27JUL61 a 25OUT63

C. Caç. 1520 ? 04FEV66 a 06ABR68

C. Caç. 1521 ? 04FEV66 a 06ABR68

C. Caç. 2526 ? 21MAI69 a 20JUN71

C. Caç. 2788 ? 100UT70 a 21SET72

C. Caç. 3367 ? 26ABR71 a 13ABR73

C. Caç. 3368 ? 26ABR71 a 19ABR73

C. Caç. 3369 ? 24MAI71 a 13ABR73

C. Caç. 3562 ? 07JUN72 a 11AGO74

C. Caç. 3563 ? 14JUN72 a 24AGO74

B. Caç. 4810/74 ? 24NOV74 a 17OUT75*

Região Militar de Moçambique (RMM)

C. Caç. 383 ? 26DEZ62 a 21JUN65

C. Caç. 2727 ? 11MAI70 a 27JUN72

C. Caç. 2728 ? 10JUN70 a 03JUL72

C. Caç. 3569 ? 24MAI72 a 30AGO74

C. Caç. 3570 ? 28MAI72 a 10JUN74

C. Caç. 3571 ? 05JUN72 a 06SET74

B. Caç. 4810 ? 06OUT72 a 07OUT74*

B. Caç. 4811 ? 02ABR73 a 11NOV74*

B. Caç. 4812 ? 14OUT73 a 13OUT74*

B. Caç. 4813 ? 29ABR74 a 07ABR75*

* O período de permanência no território ultramarino varia conforme a data de chegada de cada companhia, e de embarque de regresso à Metrópole.

Numa primeira estimativa, atendendo ao quadro orgânico de uma companhia (excluindo, naturalmente, os completamentos com tropas do recrutamento ultramarino), foram mobilizados para o Ultramar pelas Unidades açorianas cerca de 14.000 combatentes e pessoal de apoio. Integravam-nas mais de 9.200 Açorianos.

Aos Açorianos que integraram os corpos mobilizados pelas Unidades dos Açores, há que somar aqueles que foram mobilizados por Unidades continentais, e os que seguiram para os territórios ultramarinos em reforço das respectivas guarnições locais, cujo total vai além de 4.600. (Nos valores atrás indicados para os militares açorianos, não estão incluídos aqueles que sofreram deficiência física, por a sua distribuição pelas respectivas unidades mobilizadoras ainda não ter sido feita; estão incluídos, porém, no valor global dos açorianos mobilizados a seguir indicado.) E aqueles que, sem grande peso relativo nos valores totais, têm os seus processos individuais em arquivos de âmbito nacional não compulsados, dos quais nomeada e possivelmente mais significativos serão os oficiais milicianos e os militares dos Quadros Permanentes dos três Ramos das Forças Armadas. Chega-se, assim, a um montante global de Açorianos que cumpriram serviço militar no Ultramar que ultrapassa folgadamente os 14.000 (14.007 referenciados no âmbito do presente trabalho), mas que, numa projecção subjectiva pessoal, estará longe de atingir os 15.000.

O maior destino foi Angola, não só para os militares açorianos integrados nas Unidades formadas no Arquipélago, mas também para os idos em reforço da guarnição da Província. Seguiu-se a Guiné, Moçambique e, por último, Timor. A presença de militares açorianos nos restantes territórios ultramarinos foi residual.

Igualmente numa primeira estimativa, provavelmente a pecar por defeito, são estes os números de mortes ocorridas durante os períodos de comissão ou expedição na Guiné, Angola e Moçambique, em consequência de ferimentos em combate, doença ou acidente, estes em serviço ou não, de acordo com dados ainda em fase de tratamento na Direcção do Serviço de História e Documentação Militar.

Assim, morreram 151 militares mobilizados pelas Unidades açorianas, sendo 120 naturais dos Açores.

O número total de Açorianos que morreram no Ultramar durante a guerra de independência das colónias, ascende, porém, a cerca de duas centenas, atendendo aos naturais do Arquipélago mobilizados por Unidades continentais ou integrados nas Unidades dos próprios territórios ultramarinos.

Militares açorianos mortos em Angola Guiné e Moçambique, por anos e por concelhos ? Exército

Mais foram, naturalmente, os que sofreram ferimentos e doenças durante a sua permanência em África, ultrapassando as duas centenas e meia aqueles que acabaram por sofrer lesões permanentes implicando maior ou menor grau de incapacidade funcional. Numa estimativa ainda provisória, repete-se, até porque os valores ainda podem crescer em função de novas qualificações, foi oficialmente reconhecida desvalorização funcional por acidente ou doença directamente resultante do serviço de campanha a mais de 170 combatentes açorianos (Deficientes das Forças Armadas ? Dec. Lei 43/76), enquanto cerca duma centena de militares dos Açores ficaram pensionistas do Estado por incapacidades ocorridas ou resultantes do cumprimento do serviço militar no Ultramar, não directamente relacionado com a actividade de campanha.

Por computar ficam os desertores que, por convicção ideológica, religiosa ou política, ou por medo, se furtaram ao cumprimento do serviço militar obrigatório. E muitas outras vertentes decorrentes, a pedir urgente tratamento, enquanto se mantém a memória viva.

Iniciada a guerra em Angola em Fevereiro de 1961, logo em Abril seguinte deixavam os Açores duas companhias de caçadores ? a C. Caç. 110/BII 17 e a 111/BII 18 ? com destino àquele território onde, após um período final de instrução de aperfeiçoamento operacional no Continente, chegaram em Maio seguinte. De facto, havia pelo menos um ano que o Estado Maior do Exército, ciente da situação explosiva em Angola, Guiné e Moçambique, se vinha preparando para responder à insurreição quase inevitável. Os Açores haviam sido, naturalmente, considerados no esforço mobilizador a nível nacional. Dois meses depois, duas outras companhias de caçadores mobilizadas pelo BII 17 e pelo BII 18 chegavam a Angola.

Mais quatro companhias, duas do BII 17 e duas do BII 18, chegaram em comissão ao Ultramar, em 1962, duas à Guiné, uma a Angola e outra a Moçambique, com efectivos regionais.

Mas o esforço de mobilização no Arquipélago nestes dois primeiros anos de campanha, não se limitou à formação destas oito companhias com mais de novecentos homens: das classes de 1960, 1961 e 1962 (contingente incorporado nesses anos com os jovens nascidos, respectivamente, em 1939, 1940 e 1941), mais de 500 outros seguiram para o Ultramar integrados em Unidades formadas no Continente, ou para reforço das guarnições ultramarinas.

Nos anos de 1963 e 1964 não foram enviadas dos Açores Unidades para o Ultramar, se bem que aí permanecessem as Unidades anteriormente enviadas no cumprimento dos respectivos tempos de comissão. Mas os Açorianos quer das classes destes anos, quer dos últimos turnos de incorporação do ano anterior, continuaram a ser enviados para o ultramar, uma vez mais integrados em Unidades formadas no Continente, ou para reforço das guarnições ultramarinas. Nestas circunstâncias, só das classes destes dois anos, serviram no Ultramar mais de mil Açorianos. Especial relevo para os soldados que foram servir integrados na Força Aérea. E aqui nota-se particular incidência nos recenseados pelas freguesias próximas das instalações daquele ramo das Forças Armadas na Terceira e em Santa Maria ? excepção para a freguesia da Ribeira Seca, concelho da Calheta, com relativamente apreciável contributo de jovens para a Força Aérea.

Em Agosto de 1965, duas companhias de caçadores saídas do BII 17 chegam uma à Guiné, outra a Angola. Já em Fevereiro 1966, mas basicamente com efectivos da classe de 1965, desembarcam em Luanda duas companhias de caçadores mobilizadas pelo BII 18.

O ano de 1966 é de relativa acalmia, pois que, nos Açores, não se procedeu à mobilização de Unidades. Mesmo assim, cerca de quatro centenas e meia de soldados desta classe foram mobilizadas, a que se soma outra meia centena incorporada nas Unidades formadas no ano seguinte.

1967, duas companhias; 1968, quatro companhias mobilizadas. Depois 1969, com oito companhias enviadas para o Ultramar, marca o início do clímax delirante dos restantes anos de guerra: 1970, catorze companhias; 1971, onze companhias; 1972, dez companhias ? uma delas, do BII 17, para Timor ? e um batalhão (três companhias de caçadores e uma companhia de comando e serviços); 1973, quatro companhias e dois batalhões; 1974, cinco companhias e dois batalhões.

De onde saíam os efectivos para formar todos estes corpos combatentes? Só São José, Ponta Delgada, a freguesia dos Açores que mais militares deu para o Ultramar ? mais de quatro centenas e meia ? terá chegado a ter mobilizados em simultâneo cerca de uma centena de homens; e Santa Cruz da Praia da Vitória, a freguesia do DRM 17 que mais contribuiu ? mais de três centenas ? cerca de 80 homens. Com a intensificação da mobilização, o recrutamento na Região para a Força Aérea baixou drasticamente; como drasticamente diminuíram as incorporações e mobilizações de soldados açorianos por Unidades continentais. Pela quantidade notória de soldados que, na sequência do 25 de Abril, vieram a ter baixa de serviço em juntas médicas da Unidade ou dos hospitais militares, fica-se com a impressão de que para nada haviam contado as suas mazelas aquando da inspecção. Mas mesmo assim, sem encaminhamento para a Força Aérea ou para Unidades continentais, nem fuga por inaptidão física ou psíquica, não havia contingente capaz de satisfazer a voracidade da guerra. São, pois, frequentes as Unidades que saem dos Açores incompletas, incorporando posteriormente tropas do contingente da província ultramarina onde iam em comissão. Acresce que se as praças combatentes saíam do recrutamento regional, as de serviços de apoio e os comandos eram em grande parte ou totalmente de origem continental.

Os critérios de mobilização aplicados às praças tinham algo de perverso: se para os soldados funcionava a ordem ditada pelo número mecanográfico, a lembrar o tradicional sistema de sortes, aqui não para a incorporação, mas para avançarem para os palcos de combate, a nota da escola de cabos baseava a selecção destes. Ou seja, para a guerra não iam os mais capazes e aptos, mas aqueles a quem caía em sorte, isto para os soldados, ou os que haviam obtido classificação mais baixa na escola de cabos! (Este mesmo critério serviu para a mobilização das classes de sargentos e oficiais, se bem que alguns oficiais milicianos primeiramente excluídos de serviço militar no Ultramar por graça da nota obtida no curso de oficial miliciano (COM), tenham sido reconvocados para comandarem companhias mobilizadas.)

Uma pesquisa, em jeito de sondagem, feita à classe de 1975, apresenta um valor que desperta interesse: 69 soldados voluntários mobilizados para o Ultramar, incorporados em 1973, aos dezoito anos, portanto, ou dois anos antecipadamente. Valor idêntico ao de soldados açorianos que integraram algumas companhias formadas nos Açores e que fizeram o seu completamento com tropas do recrutamento ultramarino! As motivações que levaram estes jovens a oferecerem-se para a guerra não resultam da frieza dos números, mas, ao verificarmos que da freguesia do Guadalupe, Graciosa, foram 7, e da Freguesia da Ribeira Quente, Povoação, 5, quando os restantes se distribuíram mais regularmente pelo Arquipélago, os números sugerem a emergência de fenómenos ? de grupos, nos casos vertentes ? desencadeados pelo desejo de aventura; sem prejuízo, obviamente, de outros factores, certamente complexos, que uma decisão desta natureza pressupõe.

Mais frequentes foram os expedientes procurados para fugir ao cumprimento do serviço militar obrigatório: amparo a pessoa do agregado familiar da qual o mancebo ou militar seria a única garantia de subsistência, trocas (eventualmente pagas), pedidos de adiamento, nomeadamente, por já ter irmão a servir no Ultramar ? situações, salvo a primeira, que, não raro, apenas resultavam em mobilização posterior, com prolongamento do tempo de serviço efectivo. (Tenha-se presente que muitos dos soldados ou graduados em serviço militar obrigatório não foram mobilizados, pois que nas Unidades açorianas ou metropolitanas, nomeadamente nas mobilizadoras transformadas em máquinas para, em pouco meses, formar combatentes ? carne para canhão, na gíria ? tinham que ficar os necessários ao seu funcionamento. Mas tenha-se, também, presente que às mobilizações para o Ultramar correspondeu um aumento de tempo de serviço nas fileiras para os não mobilizados, equivalendo este, aproximadamente, ao tempo de serviço total devido pelos militares mobilizados ? antes da guerra o tempo de serviço militar obrigatório era, na prática, inferior a um ano ou poucos mais meses, para passar para dois anos e meio ou mais.)

Uma vez que os jovens açorianos com habilitações literárias superiores à escolaridade obrigatória, integrados nas classes de sargentos e oficiais, eram distribuídos pelas Unidades a nível nacional, os soldados combatentes das Unidades mobilizadas pelo BII 17 e BII 18 provinham, essencialmente, das zonas rurais.

Embora nos Açores só tenham sido formados corpos para servir na Guiné, Angola, Moçambique e Timor, encontramos também Açorianos ao serviço das Forças Armadas em Cabo Verde, São Tomé e Macau.

A viagem para o Ultramar fazia-se primeiro por via marítima, mais tarde, na década de setenta, por via aérea, quase sempre com trânsito pelo Continente, com frequência do IAO (instrução de aperfeiçoamento operacional). Aconteceu, porém, ser a viagem directa, nomeadamente a das C. Caç. 2789 e 2790 que de Ponta Delgada seguiram para Bissau a bordo do velho navio Carvalho Araújo. O regresso sempre se fez por Lisboa.

Muito se tem escrito ? memórias, ficção, ensaio ? sobre o quotidiano dos jovens portugueses em serviço militar nas campanhas de África. Embora o Açoriano sempre fosse identificado pela sua terra de origem, quiçá com maior relevo quando comparado com Minhotos, Algarvios e outros, a sua permanência em terras africanas não teve notável especificidade relativamente às restantes tropas metropolitanas. Os próprios corpos constituídos nos Açores sempre integraram efectivos continentais. No entanto, aqui fica o fundamento da atribuição de uma condecoração a um bravo da Ribeira Seca, concelho da Ribeira Grande, combatente em Moçambique, para ilustrar uma vertente desse ambiente de guerra, malgrado a adjectivação ideológica, mas na crueza dos factos:

Manda o Governo da República Portuguesa, pelo Ministro do Exército, condecorar com a Medalha de Cobre de Valor Militar, com palma, nos termos do artigo 7.º, com referência ao § 1.º do artigo 51.º, do Regulamento da Medalha Militar, de 28 de Maio de 1946, o Soldado n.º 05782267, AUGUSTO DA COSTA MONIZ, da Companhia de Caçadores n.º 2306 ? Batalhão de Caçadores n.º 2832 ? Batalhão Independente de Infantaria n.º 18, porque numa violenta emboscada realizada pelo inimigo, em 5 de Setembro de 1968, numericamente superior, bem armado e municiado, teve comportamento brilhante. Embora o seu grupo de combate tenha ficado reduzido logo nos primeiros momentos a menos de metade, o soldado Moniz manteve-se no seu lugar de apontador de metralhadora, indiferente ao fogo cerrado com que o inimigo varria toda a zona de morte, fazendo fogo até que a arma se encravou. Não conseguindo solucionar a avaria continuou em cima da viatura, de pé e a peito descoberto, fazendo fogo de G-3 até esgotar todos os carregadores, causando baixas ao inimigo que se aproximava, quebrando-lhe o ímpeto de ataque e repelindo-o, tendo assim uma actuação decisiva na acção.

Em seguida tomou parte voluntariamente com mais três camaradas na captura dum elemento inimigo que tinha sido abatido e que se encontrava à frente da coluna, capturando o seu armamento e impedindo que ele fosse levado.

A sua acção foi altamente importante na reacção das nossas tropas, permitindo não só repelir o inimigo como ainda capturar material.

Revelou o soldado Moniz, excepcionais dotes de coragem, decisão, sangue-frio, serena energia debaixo de fogo e desprezo pela vida, constituindo um exemplo a seguir e muito honrando a Unidade a que pertence e o Exército Português.

Ministério do Exército, 29 de Abril de 1969. O Ministro do Exército, J. M. de Bethencourt Rodrigues.

E ainda o louvor atribuído a outra praça natural da freguesia de Santa Cruz, concelho da Lagoa, pelo seu comportamento numa operação do quotidiano da Guiné, certamente exemplar, mas que só mereceu distinção do escalão disciplinar mínimo com competência para o efeito - Comandante de Companhia.

Louvo o 1.º Cabo Atirador 01886269 ? ANTÓNIO MANUEL FURTADO LUZ, desta Companhia, por, na Operação "TIGRE VADIO" na qual tomou parte activa, salientou as suas excepcionais qualidades de desembaraço, iniciativa e sangue frio, serenidade debaixo de fogo, espírito de sacrifício, sempre pronto a proteger os seus superiores e camaradas em locais de maior perigo e particularmente durante uma emboscada desencadeada pelo IN (inimigo) em que teve excelente comportamento.

Apesar do cansaço devido à longa marcha, duração da Operação, à falta de água, ao calor sufocante e às imensas dificuldades de progressão e ainda a um ataque de abelhas, lançadas pelo IN, o 1.º Cabo Luz não esmoreceu nunca e, embora também tenha sofrido duramente as picadas das abelhas, apresenta-se voluntariamente para transportar numa maca um ferido com um estilhaço.

É de destacar a sua preocupação constante de animar e encorajar os seus camaradas feridos e outros mais extenuados pela dureza com que se revestiu a Operação. Por tudo isto e ainda por acções praticadas em diversas Operações em que tomou parte durante cerca de seis meses em que se encontra na Província, aliadas à sua correcção, ao seu porte, creditou-se como um dos melhores elementos que dignificam a sua companhia, granjeando por isso a estima dos seus superiores e a consideração dos seus camaradas (Companhia de Caçadores 2636, Ordem de Serviço N.º 27, Quartel em Bafatá, 4 de Maio de 1970).

Uma homenagem ao SOLDADO AÇORIANO! Manuel Faria

Fontes: Arquivo Geral do Exército, Processos individuais ? DRM 17 e DRM 18; Arquivo Histórico Militar, Resenhas históricas das Unidades que serviram no Ultramar; DAMP/RG/Secção DFA, Reforma e Invalidez ? Listagens dos pensionistas apresentados na ZMA, EME/Direcção do Serviço de História e Documentação Militar, Listagens dos militares mortos em serviço no Ultramar ? Unidades e Concelhos dos Açores.

Bibl. Oliveira, C. (1996), «Guerra Colonial». Dicionário de História do Estado Novo, dir. Fernando Rosas e J.M. Brandão de Brito. Venda Nova, Bertrand Editora, I: 413-15. Pélissier, R. (1999), «Guerras Coloniais». Dicionário de História de Portugal, coord. por António Barreto e Maria Filomena Mónica. Lisboa, Figueirinhas, VIII: 159-163.