Governo dos Açores - Secretaria Regional da Educação, Ciência e Cultura - Direção Regional da Cultura

Bensaúde, Joaquim

[N. Ponta Delgada, 27.3.1859 - m. Lisboa, 7.1.1952] Engenheiro e historiador. Era filho de José *Bensaúde, dinâmico continuador e gestor da grande casa empresarial da família hebraica Bensaúde, originária de Marrocos e radicada nos Açores desde 1818. Com apenas 15 anos de idade, foi enviado por seu pai para a Alemanha, onde veio a realizar os seus estudos preparatórios e superiores na Escola Técnica Superior de Clausthal, em Hanôver, pela qual viria a diplomar-se em engenharia civil. Como ele próprio esclarece numa das suas cartas a Joaquim de Carvalho, viveu na Alemanha entre 1874 e 1884 e aí voltaria depois para proceder às suas investigações históricas. As suas obrigações comerciais e principalmente as suas paixões históricas levaram-no a estanciar em várias cidades de outros países europeus, nomeadamente a Suíça, a França, a Inglaterra e a Espanha, onde teve a oportunidade de se relacionar com muitas das mais insignes personalidades intelectuais do seu tempo. No domínio das artes, cultivou o canto, o violoncelo, a pintura e a cerâmica. Foi membro da Academia das Ciências de Lisboa, admitido em 29.4.1915, e da Academia Portuguesa de História, desde 22.12.1937.

Aos 37 anos de idade, perante aquilo a que chamou as espoliações alemãs das glórias nacionais, decidiu tornar-se historiador. Revoltado contra a tese de Humboldt e dos seus seguidores, segundo a qual a náutica dos descobrimentos marítimos teve a sua origem na Alemanha, viria a demonstrar no seu primeiro livro L'astronomie nautique au Portugal à l'époque des grandes découvertes que as tábuas náuticas portuguesas foram colhidas no Almanach perpetuum de Abraão Zacuto e não nas Ephemerides de Regiomontano. Verifica, em primeiro lugar, que não se encontra nas Ephemerides qualquer tábua de declinação solar. Constata depois que Regiomontano incluiu essas tábuas nas Tabulae directionem e aí é adoptada uma obliquidade da eclíptica (declinação máxima do Sol) de 23° 33', ao passo que os primeiros regimentos portugueses incluíam tábuas náuticas com uma obliquidade de 23° 30'. Ficava assim refutada a tese de Humboldt e liquidada a pretensa influência de Martinho da Boémia nas origens da náutica portuguesa.

A sua primeira obra, bem como as que se lhe seguiram, tiveram grande retumbância na Europa e mereceram o maior aplauso de eminentes historiadores nacionais e estrangeiros. No entanto, não ficou isento de críticas. Por um lado, o historiador catalão Gonçalo de Reparaz Júnior acusou-o de confundir o cartógrafo do infante D. Henrique, Jaime de Maiorca (Jafuda Cresques), com seu pai Abraão Cresques, autor do célebre Atlas de 1375. Por outro lado, a sua tese das origens do plano henriquino de alcançar a Índia por mar viria a colher duras críticas de Duarte Leite e de Vitorino Magalhães Godinho. Homem que lutou por causas e por convicções, é inegável o seu valioso contributo no domínio da história dos descobrimentos portugueses. José Azevedo e Silva (2002)

Obras principais (1912), L'astronomie nautique au Portugal à l'époque des grandes découvertes. Berna, Akademische Buchhandlung von Max Drechsel [obra premiada pelo Instituto de França, em 1916, com o prémio Binoux]. (1913), Histoire de la science nautique portugaise à I'époque des grandes découvertes [projecto de publicação de fontes em 7 volumes]. (1917), Histoire de la science nautique portugaise: résumé. Genebra, A. Kundig. (1917-1920), Les légendes Allemandes sur l'Histoire des Découvertes Maritimes Portugaises. Réponse à M. Herman Wagner, 1e partie. Genebra, A. Kundig. (1921), Histoire de la Science Nautique des Découvertes Portugaises (Réimpression de critiques étrangères). Lisboa, Imp. Nacional. (1924), Regimento do Estrolabio e do Quadrante - Tractado da Spera do Mundo. 2ª ed., Lisboa, Imp. Nacional. (1927a), Luciano Pereira da Silva e a sua obra. Coimbra, Imp. da Universidade. (1927b), Les Légendes Allemandes sur l'Histoire des Découvertes Maritimes Portugaises, 2e partie. Coimbra, Imp. da Universidade. (1929), Origines du Plan des Indes. Conférence. Paris, Lib. Aillaud. (1930a), Lacunes et Surprises de l'Histoire des Découvertes Maritimes, le partie. Coimbra, Imp. da Universidade. (1930b), As origens do plano das Índias. Resposta ao artigo do Excelentíssimo Sr. Dr. Duarte Leite. Paris,  Lib. Aillaud. (1931), Études sur l'Histoire des Découvertes Maritimes. Coimbra, Imp. da Universidade. (1940), O Manuscrito «Valentim Fernandes». Lisboa, Academia Portuguesa de História. (1942), A Cruzada do Infante D. Henrique. Lisboa, Agência Geral das Colónias. (1946), Estudos sobre D. João II. Lisboa, Academia Portuguesa de História.