[N. Velas, ilha de S. Jorge, 31.12.1844 - m. ibid., 17.2.1921] Poetisa da geração realista. Recebeu a educação própria de uma rapariga do seu tempo da média burguesia de província (instrução primária, línguas, uns rudimentos de música) e forrageou por si mesma o lastro literário que completou a sua formação intelectual. Possuía um carácter indómito e pouco sociável e assumia-se andrófoba e refractária ao casamento. Não deixou, porém, de casar, ainda que só tardiamente (aos 34 anos) e suportando por muito pouco tempo o que ela chamava a «treva do himeneu». O seu génio insubmisso levou-a, com efeito, a separar-se do marido antes de concluído um ano de vida em comum, logo a seguir ao nascimento do primeiro filho. Uma vez liberta dos laços matrimoniais, habilitou-se então ao Magistério Primário e dedicou-se daí em diante ao ensino das primeiras letras.
Sentiu «bafejar-lhe a fronte / o fogo da inspiração» sob o signo do Romantismo, mas rimou os primeiros «devaneios» poéticos já sem sacrificar a Eros, por o «orgulho de mulher» lhe tornar defeso o prazer do amor e não achar «o homem assunto digno de verso». Mais tarde encontraria melhor inspiração (ou mais propícia ao seu estro) ao afinar a lira pelo diapasão da poesia de combate. Passou, então, a apostrofar o trono e o altar em alexandrinos acerbados de paixão iconoclasta e a exaltar, no mesmo tom, o proletariado (o «escravo do trabalho») que, sobre o ombro, qual «Atlas portentoso», erguia a «mole formidável» do futuro. Por fim, em consequência do atentado que vitimou o rei D. Carlos e o príncipe D. Luís Filipe, abjurou as suas ideias revolucionárias e reconciliou-se com a igreja católica. Publicou duas colectâneas poéticas: Fantasias, Ponta Delgada, 1875, e A Sibila, Velas, 1884, e extractos de um romance intitulado A Esfinge, espécie de autobiografia romanceada, no jornal A Ilha Graciosa, 1896. Eduíno de Jesus (Out.1997)