Freguesia do concelho da Madalena, situada no canto noroeste da ilha do Pico, entre as freguesias de Santa Luzia, a oriente e da Madalena, a ocidente.
GEOGRAFIA Com forma triangular com o vértice no cume do Pico, a 2357 m de altitude, estende-se até à costa setentrional. Fisiograficamente tem o aspecto de uma encosta regular, muito declivosa na parte superior e menos inclinada na orla marítima, onde se situam os principais aglomerados populacionais. Salientam-se, como elevações, o cabeço Brasil, um pequeno cone vulcânico com 131 m de altitude, formado por escórias e brechas vulcânicas, situado na baixa encosta, perto de outros pequenos cones de escórias, resultantes de erupções secundárias, e ainda mais baixos, como os cabeços do Labate (126 m), do Chão (117 m) e do Moinho. Apesar de chuvosa, é uma área de solos secos, sem cursos de água importantes, dedicando-se a população essencialmente à pecuária, na alta encosta, à agricultura e à pesca. A costa, recortada, tem praias de calhaus e blocos e diversos baixios, assinalados pelos lugares do Baixio Grande e Baixio Pequeno, a ocidente da Baía do Cachorro. Nela se localizam dois portos de pesca, o Porto Cachorro, a leste, e o Cais do Mourato. Em 1990 (INE, 1991) a freguesia contava 530 habitantes, dos quais 618 homens e 570 mulheres, residentes em 2616 edifícios. Aquele total de população corresponde a metade da população residente em 1864 (INE, 1960), que foi progressivamente diminuindo até 1981 (INE, 1970, 1981, 1991), quando atingiu o valor mínimo, depois do surto migratório das décadas de sessenta e setenta. A freguesia inclui , para além da sede, em Bandeiras, que em 1991 tinha 405 residentes em 199 casas (149 homens e 211 mulheres), os lugares de Cabeço Chão, com 115 residentes em 41 casas (63 homens e 52 mulheres), Cachorro, com 2 habitantes, um casal, apesar dos seus 25 edifícios, Cais do Mourato com 7 casas isoladas com um total de 8 habitantes.
A sede da freguesia, Bandeiras fica situada pelos 100 m de altitude, na base da encosta, alinhada pela estrada litoral e caminhos que dela partem. M. Eugénia S. Albergaria Moreira (Jan.1999)
HISTÓRIA Localidade habitada desde os tempos do povoamento, a sua paróquia só surgiria no século XVII, pois datam de 1637 os primeiros assentos de baptismos, casamentos e óbitos. Até então estava ligada à freguesia da Madalena e com esta ao concelho de S. Roque. Em 1723, foi uma das localidades incluídas no novo concelho da Madalena.
Os seus terrenos, constituídos em grande parte por lajidos que marcam largamente a respectiva toponímia, destinavam-se predominantemente à cultura da vinha, contribuindo com apreciável quinhão na produção do afamado vinho Verdelho da ilha do Pico.
A erupção de 1718, que brotou a meia encosta da montanha, calcinou uma extensa faixa da sua área, formando o ?mistério? do seu nome, que separa o povoado da freguesia de Santa Luzia do concelho de S. Roque. Na costa, em confronto com as ondas do mar, a lava escorrente fundiu os caprichosos e abismais Arcos do *Cachorro, notável obra da Natureza que constitui destacado atractivo turístico nos nossos dias.
Quando a exploração dos vinhedos picoenses estava no seu auge, em quantidade e qualidade, apareceu na freguesia das Bandeiras, em 1852, a moléstia do oídio que, em poucos anos, dizimou irremediavelmente a maioria das parreiras, cujas ?curraletas? de abrigo se encontram improdutivas.
Os seus conhecidos figueirais, que produziam uma muito apreciada aguardente a justificar a abundância dos alambiques, foram completamente destruídos pelo ?bolor?, de nada lhes servindo as altas paredes semi-circulares que os protegiam das nortadas. Idêntico caminho levaram os vetustos castanheiros, os damasqueiros olorosos e as macieiras de fruta de polpa rosada e macia. Ficaram apenas os saborosos inhames, a que os locais chamavam ?cocos?, componente importante da sua alimentação.
Dedicavam-se também os seus habitantes à criação de muitos rebanhos de ovelhas, donde retiravam muitíssima lã, actividade agora extinta, substituída pela do gado vacum.
A pesca foi e continua a ser uma atracção especial para lazer e consumo interno e chegaram a arriar à baleia com botes estacionados no porto do Cachorro.
Os campos de constituição não arável foram sucessivamente abandonados na sequência das doenças que os atacaram, incrementando o decréscimo da população, que procurou alento na emigração, sangria agravada pelo terramoto de 1973.
Com a inauguração do *aeroporto da ilha do Pico, situado no limite norte desta freguesia, em 1982, ganharam novo ânimo os residentes, entretanto beneficiados pelo fundamental do viver hodierno, e a população voltou a aumentar.
Recorde-se que foi nas Bandeiras que se ensaiou há décadas atrás, com resultados positivos, um engenhoso processo de recuperação das áreas estéreis, recentemente generalizado, que consiste em recobrir os mantos de basalto com uma camada de escória fina, a *bagacina preta dos cabeços formados por antigos vulcões secundários, onde quase tudo se cultiva.
De referir que nesta zona, mais precisamente no lugar do Cabeço Chão, a um tempo bafejado pela secura do ar e pela viragem que desce da montanha, existe um microclima especial que, por si só, foi considerado sanatório natural, muito utilizado por pacientes pulmonares de origens várias, antes do aparecimento de outros recursos médicos.
Dado o seu grande interesse espeleológico, não pode deixar de se mencionar a existência de muitas grutas vulcânicas, chamadas ?furnas?, algumas delas por explorar convenientemente e todas ainda de difícil acesso por parte dos visitantes.
A sua magnífica igreja, dedicada à Senhora da Boa Nova, concluída em 1860, em substituição da anterior de menores proporções, constitui o centro da povoação em volta do qual se agrupam diversas casas de boa traça a atestar a passagem de antigas famílias de condição, a par das construções solarengas nos sítios do Cachorro e do Cais do Mourato, estas que foram dos abastados vitivinicultores faialenses do ciclo do ?Verdelho?.
Mas o núcleo inicial, onde restam alguns consideráveis vestígios, foi no subúrbio das Casas Brancas. Aí nasceram as Bandeiras e de algum aspecto relevante da sua notoriedade de antanho deverá derivar o seu singular nome. Terá sido nas Bandeiras, num passado remoto, a sede do poder judicial da ilha. Daí, por certo, as ruínas de grande porte que existiam nas Casas Brancas, de cujo templo primitivo se guardam ainda alguns elementos decorativos.
Houve na freguesia diversas ermidas de que perduram a de S. Caetano, no Cabeço Chão, a da Senhora dos Milagres, no Cachorro e a da Senhora do Desterro, no Cais do Mourato.
Apesar dos seus fracos recursos e da escassez de pessoas, as Bandeiras conheceram um período áureo de assinalável nível sóciocultural, a coincidir com a permanência de cinquenta anos consecutivos, do Pe. Francisco Nunes da Rosa, distinto pároco e ouvidor do concelho. Orador sacro, escritor, jornalista, homem de cultura, fundou a Sociedade ?Juventude Católica Boa Nova?, em 1915, o ?Grupo Musical Nunes da Rosa?, em 1922, que durou até 1928, e os jornais A Ordem, publicado de 1907 a 1910, e Sinos da Aldeia, de 1916 a 1924, únicos periódicos que na altura existiam em meio rural.
Muitos outros, sacerdotes, professores, médicos, agentes da Administração Pública, homens de bem, cultores das Letras, também nascidos nesta freguesia, foram cidadãos ilustres. Tomaz Duarte Jr. (Jun.1999)
Bibl. Instituto Nacional de Estatística (1960), X Recenseamento Geral da População no Continente e Ilhas adjacentes. Lisboa, INE, I, 1. Id. (1970), XI Recenseamento Geral da População. Continente e Ilhas Adjacentes. Lisboa, INE, I. Id. (1981), XII Recenseamento Geral da População. II Recenseamento Geral da Habitação. Resultados Definitivos. Lisboa, INE. Id. (1991), XIII Recenseamento Geral da População 1991. III Recenseamento Geral da Habitação. Dados Definitivos. Lisboa, INE.