Governo dos Açores - Secretaria Regional da Educação, Ciência e Cultura - Direção Regional da Cultura

Ferreira, Herculano de Amorim

 [N. Nossa Senhora do Rosário, Lagoa, S. Miguel, 22.10.1895 ? m. S. João do Estoril, 18.5.1974]. Cientista e Professor universitário. Fez o 7.o ano no Liceu de Ponta Delgada. Matriculou-se na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, em 1911, de onde transitou para o Instituto Superior Técnico e para a Escola Militar, concluindo o curso de Engenharia, em 1916, com a primeira classificação do seu curso.

Alferes de engenharia em Fevereiro de 1917, em Abril seguinte foi mobilizado, como oficial do Batalhão de Caminhos de Ferro no Corpo Expedicionário Português, para participar na I Guerra Mundial em França, onde esteve até Maio de 1919, tendo sido louvado e condecorado em campanha.

Regressado a Portugal, terminou o curso de engenharia civil (1921) e desempenhou funções no Porto de Lisboa (1920-1921) e nos Caminhos de Ferro (1925-1928). Assistente de Física na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (1920), foi nesta escola que completou a licenciatura em Ciências Físico-Químicas (1923) e obteve o grau de doutor (1930) com uma dissertação intitulada A birrefrangência circular do quartzo e a teoria de Fresnel (Ferreira, 1931), após estágio no Imperial College, de Londres (1929-1930). Em 1931, foi nomeado Professor Catedrático, após concurso, a que se apresentou com o trabalho Contribuição experimental para o estudo dos fenómenos de atrito lubrificado (Ferreira, 1931). Foi Professor Catedrático de Máquinas Térmicas, na Escola Militar (1928-1937), professor-visitante no Imperial College, interessava-se então por Física-Atómica (1933-1934), e de Física, na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (1930-1965). Também foi físico no Instituto Português de Oncologia (1934-1937), onde instalou o serviço Rádio.

Director do Instituto Geofísico Infante D. Luís (1937-1964), em 1946, foi encarregado de estudar a reorganização das actividades meteorológicas e geofísicas do Estado, no continente e no ultramar, com o objectivo de as unificar tecnicamente, e nomeado, em comissão, Director-Geral do Serviço Meteorológico Nacional, cargo então criado para aquele fim e que exerceu até 1965. Estas funções fizeram orientar a sua actividade científica para a Física da Terra, tornando-se iniciador e impulsionador dos estudos de climatologia dinâmica.

É autor de cerca de duas centenas de obras didácticas e de artigos científicos nomeadamente sobre geomagnetismo, sismologia, vulcanologia, marés terrestres e hidrologia, incluindo as implicações sociais e humanas da actividade científica, em revistas da especialidade, portuguesas e estrangeiras (cf. Peixoto, 1980).

Congressista e conferencista, convidado no país e no estrangeiro, foi presidente da Comissão Organizadora do XVI Congresso Internacional de Geografia (Lisboa, 1948), presidente da Comissão Portuguesa da União Radiocientífica Internacional (1948-1965), membro da Comissão Executiva da Organização Meteorológica Mundial (1951-1959) e vice-presidente desta Organização (1955-1959), presidente da Comissão Portuguesa para o Decénio Hidrológico Internacional (1965-1974) e presidente da Comissão Portuguesa da União Geográfica Internacional (1968-1974).

Eleito sócio correspondente da Academia das Ciências de Lisboa (1938), passou a ocupar, como efectivo, a cadeira número 5, desde 1945. Aí foi eleito presidente sete vezes e presidente da Classe de Ciências, desde 1960. Foi também membro da Academia das Ciências de Córdova, da Academia Brasileira de Letras, da Academia das Ciências de Buenos Aires e integrou diversas sociedades científicas no país e no estrangeiro.

Foi deputado pelo círculo de Ponta Delgada, à Câmara dos Deputados (1925-1926) e à Assembleia Nacional (1942-1957), subsecretário de Estado da Educação Nacional (1944-1946) e procurador à Câmara Corporativa (1963-1965, 1967-1969 e 1969-1973). Foram-lhe atribuídas várias condecorações civis, no país e no estrangeiro. Luís M. Arruda

Obras que interessam aos Açores: (1946), Os Açores, Setúbal e Lisboa vistos por uma dama escocesa, em 1774-76. Revista Municipal, Lisboa, 28-29: 3-13 e 43-63 [sobre a passagem de Miss Janet Schaw pelos Açores, em 1774, a bordo do pequeno brigue de 80 toneladas Jamaica Packet, comandado por Thomas Smith, relatada no seu diário publicado em 1921, por C. M. Andrews e E. W. Andrews, com o título Journal of a Lady of Quality: being the narrative of a Journey from Scotland to the West Indies, North Caroline and Portugal, in the years 1774 to 1776]. (1946), Naturalistas britânicos nos Açores. Insulana, 2, 4: 531-546. (1954), Expansão da literatura médica inglesa em Portugal, nos séculos XVIII e XIX. Insulana, 10: 269-277. (1955), O Clima de Portugal. Tomo VIII, Açores e Madeira. Lisboa, Publicações do Serviço Meteorológico Nacional. (1957), Palavras (em memória do notável cientista Coronel Afonso Chaves). Boletim da Academia das Ciências de Lisboa, (Nova série), 29: 25-26. (1959), Afonso Chaves, primeiro director do serviço meteorológico dos Açores. Publicações do Serviço Meteorológico Nacional, RT 457 /Mem. 132/ 11 Mai. 59. (1960), Reconhecimento geofísico da erupção dos Capelinhos, nos Açores. Boletim da Academia das Ciências de Lisboa, (Nova série), 32: 178-179. (1961), Installation de stations de marées terrestres aux Açores et à Timor. Communications de l?Observatoire Royal de Belgique, Bruxelas, 58: 169. (1962), O Observatório Magnético de S. Miguel. In Geomagnética, Publicação comemorativa do 50.o aniversário do Observatório Magnético de S. Miguel, Açores. Lisboa, Serviço Meteorológico Nacional: 229-236.

 

Fonte: Academia das Ciências de Lisboa, processo individual.

 

Bibl. Ferreira, H. A. (1931), A birrefrangência circular do quartzo e a teoria de Fresnel. [Dissertação de doutoramento]. Arquivos da Universidade de Lisboa, 13: 37-72. [Id. (1932), The double refraction of quartz along the optic axis. Proceedings of Royal Society of London, (A), 135: 214, reproduz os resultados principais da dissertação de doutoramento]. Id. (1931), Contribuição experimental para o estudo dos fenómenos de atrito lubrificado. Ibid., 13: 73-114. Peixoto, J. P. (1980), Elogio Histórico do Professor Amorim Ferreira. Memórias da Academia das Ciências de Lisboa, (Classe de Ciências), 23: 53-79.