[N. Elvas, 1792 ? m. Lisboa, 19.8.1848] Deste conhecido e importante militar e político existe uma pormenorizada biografia no Dicionário de Portugal, de fácil consulta e por isso se tratará em especial da sua ligação aos Açores.
Assentou praça no regimento de Artilharia 3 como cadete, a 21 de Abril de 1806, e foi promovido a 2.º tenente, 1812; 1.º tenente, 1819; capitão, 1820; major, 1825; tenente-coronel, 1833; coronel, 1834; brigadeiro, 1836, sendo reformado compulsivamente a 6 de Junho de 1847 no posto de marechal de campo.
Participou na Guerra Peninsular e em 1821, jovem capitão, partiu para o Brasil onde com o exército português tentou evitar a separação da colónia, regressou ao reino em 1823. Promovido a major, 13 de Maio de 1825, foi nomeado comandante das duas companhias pagas da ilha do Faial, onde se encontrava quando D. Miguel tomou o poder, tentando ele e o governador militar, Tomás Ruxleben, evitar a aclamação do novo rei absoluto. Quando se deu a 22 de Junho de 1828 na Terceira a revolta de Caçadores 5, que restabeleceu a Carta Constitucional, o governo provisório mandou regressar a companhia do Faial à Terceira, mas Soares Luna e Ruxleben, por ordem deste, invocando o perigo que corriam, decidiram emigrar para Inglaterra. Esta decisão foi sempre duvidosa e por isso em 1835 Soares de Luna pediu o testemunho dos cônsules dos Países Baixos, da França e da Rússia no Faial justificativos da sua conduta. Acompanhou Saldanha na tentativa de furar o bloqueio inglês à Terceira e aí desembarcar para se juntar aos liberais que haviam tomado o poder (1828), mas não o conseguindo voltou à Europa. Só em 1830 desembarcou na Terceira (19 de Agosto) e recebeu de Vila Flor o comando do célebre Batalhão Académico, que comandou de 20 de Outubro de 1830 a 20 de Junho de 1834, quando este se extinguiu. Este batalhão, considerado difícil e indisciplinado, sob o seu comando participou na conquista de S. Miguel, na Ladeira Velha [ver Ladeira Velha, batalha da] e depois nas acções do cerco do Porto onde Soares Luna se distinguiu. Acompanhou Vila Flor ao Algarve, foi governador de Faro onde também se destacou na defesa heróica da cidade contra os ataques miguelistas. Como coronel comandou o Regimento n.º 2 de Artilharia, com quartel em Belém.
Teve participação política, foi eleito deputado pela oposição (1834-1836), aderiu à revolução de Setembro (1836) e devido à sua perseverança à frente do seu regimento é que se salvou a revolta do contragolpe da «Belenzada». Em Novembro de 1836 foi eleito constituinte (1837-1838) e quando da revolta dos marechais, fiel a Sá da Bandeira, foi governador militar do Porto. Fez sempre oposição aos governos que prepararam a restauração da Carta Constitucional o que lhe valeu a perseguição política com repercussões graves na sua carreira.
No mesmo ano agitado de 1836 foi nomeado comandante da 10.a Divisão, a dos Açores, com quartel-general em Ponta Delgada (portaria de 14 de Dezembro de 1836) sendo assim o primeiro comandante dessa nova Divisão criada pelo decreto de 26 de Novembro de 1836. Em 25 de Outubro de 1837 pediu a reforma e autorização para fixar residência em Ponta Delgada, que não lhe foi concedida. Foi exonerado do comando da Divisão a 5 de Abril de 1838 e passou ao comando da arma de Artilharia.
Como o comando da 10.a Divisão coincide com a Constituinte, à qual pertenceu, é difícil, no estado actual da investigação, dizer qual o seu papel efectivo nessa missão.
Foi afastado da política pelos cartistas a partir de 1842 e prejudicado na carreira, mas em 1846, durante o governo de Palmela, foi nomeado governador da torre de S. Julião da Barra. Tendo aderido à Junta do Porto, durante a Patuleia, foi compulsivamente reformado como marechal-de-campo, a 6 de Junho de 1847.
Era condecorado com a Ordem de S. Bento de Avis (comendador), Torre e Espada e Nossa Senhora da Conceição (cavaleiro) e com a cruz das campanhas da Guerra Peninsular.
Publicou folhetos com interesse açoriano. J. G. Reis Leite
Obras. (1835), Descripção da formosa caldeira da ilha do Faial. Lisboa, Typ. de Eugenio Augusto. (1837), Memórias para servirem à história dos factos de patriotismo e valor praticados pelo distincto e bravo Corpo Académico, que fez parte do Exercito Libertador. Lisboa, Typ. Lisbonense. (1838), Documentos segundo a ordem chronologica e que se acham datados e que attestam os serviços militares praticados por João Pedro Soares Luna. Lisboa, Typ. Lisbonense.
Fontes. Arquivo Histórico Militar (Lisboa), cx. 758.
Bibl. Canto, E. (1890), Bibliotheca Açoreana. Ponta Delgada, Typ. do Archivo dos Açores, I: 188. Dicionário Bibliográfico Português (1973). 2.a ed., Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, IV: 15 e X: 329. Dicionário Portugal (1909). Lisboa, Romano Torres, IV: 583-584. Dicionário Biográfico Parlamentar (1834-1910) (2005). Lisboa, Assembleia da República, II: 641-642.