Governo dos Açores - Secretaria Regional da Educação, Ciência e Cultura - Direção Regional da Cultura

Côrtes-Rodrigues, Armando (A. César Côrtes-Rodrigues)

[N. Vila Franca do Campo, S. Miguel, 28.2.1891 ? m. Ponta Delgada, S. Miguel, 14.10.1971] Escritor.

Já na juventude liceal, Côrtes-Rodrigues escrevia, havendo até registo da elaboração de uma opereta. De resto, o seu pai, César Rodrigues, também versava, o que pode explicar uma inclinação literária, muito mais lata e diversa no filho (órfão de mãe ao nascer). A ida para Lisboa, para cursar Românicas, fê-lo conhecer Fernando Pessoa e fazer parte do grupo do Orpheu. Colaborou nos primeiros números da revista com o mesmo nome, assinando sob o pseudónimo Violante de Cysneiros. O seu modernismo foi muito moderado, dando a mão à tradição de composição lírica e às especificidades da sua terra-natal, à qual regressou em 1917, dois anos depois de terminar estudos. Na cidade de Ponta Delgada (e também em Angra do Heroísmo), foi exercer a profissão de professor. A sua actividade intelectual continuou a florescer: foi sócio-fundador do Instituto Cultural de Ponta Delgada, chegando mesmo a gerir a revista Insulana, publicação da responsabilidade deste Instituto que levou o nome dos Açores além-fronteiras. Continuou a corresponder-se intensa e assiduamente com Pessoa; todavia, a poesia modernista, com a sua nova concepção da personalidade humana e a sua aspiração de elevar a arte da Pátria ao Mundo nunca converteu Côrtes-Rodrigues por inteiro, apesar do seu partilhar dos novos ideais. O forte apelo da ilha ? com tudo o que isso implica de evocações, padrões de ser e de pensar, mitogénese e ambiências ? transformaram a influência do amigo Pessoa em algo diverso; foi o louvar da sua gente que lhe interessou fazer, acima de tudo, fosse através das suas tradições, fosse através do sentimento. O desvendar de Côrtes-Rodrigues da «alma popular» fez-se pela poesia (mesmo quando formalmente optou pelo moderno verso livre ao invés da redondilha), de estudos etnográficos muito relevantes, de crónicas e de teatro (tendo adaptado uma peça para argumento de um filme português que se tornou célebre em 1954, Quando o Mar Galgou a Terra). O reencontro com a sua terra conservadora, onde frequentara o quase conventual colégio Fisher, avivou nele um classicismo poético de acentuada vertente humanista. A serenidade viva com que evocava as suas raízes valeu-lhe o Prémio Antero de Quental em 1953, pelo livro Horto Fechado e Outros PoemasCarla Cook (Nov.2006)

Obras Principais: (1922), Ode a Minerva. Angra do Heroísmo, s.n. [poesia]. (1922), Conto do Natal para a Fernanda in Os Açores, Revista Ilustrada, Ponta Delgada, Barbosa e Irmão. (1924), Em Louvor da Humildade. Poemas da Terra e dos Pobres. Ponta Delgada, Artes Gráficas [poesia]. (1926), Auto do Natal. Lisboa, s.n. [teatro]. (1932), O Milhafre. Angra do Heroísmo, Liv. Editora Andrade [teatro]. (1934), Cântico das Fontes. Ponta Delgada, Gráfica Regional [poesia]. (1937), Poesia Popular Açoriana. Angra do Heroísmo, Tipografia Editora Andrade. (1942), Cantar às Almas, Açoriana, Angra do Heroísmo, 3, n.º 1: 17-35 [etnografia]. (1940), Quando o Mar Galgou a Terra. Ponta Delgada, Papelaria Ambar [teatro]. (1942), Cantares da Noite Seguidos dos Poemas de Orpheu. Ponta Delgada, Gráfica Regional [poesia, argumento de filme em 1954, produtora Filmes Albuquerque, Lisboa]. (1953), Horto fechado e Outros Poemas. Porto, Imprensa Portuguesa [poesia]. (1956), Antologia de Poemas de Armando Côrtes-Rodrigues (org. Eduíno de Jesus). Coimbra, Arquipélago. (1957), Em Louvor da Redondilha. Atlântida, 1, n.º 6: 341-342. (1957), Auto do Espírito Santo. Ponta Delgada, Instituto Cultural de Ponta Delgada. (1961-1966), Voz do Longe. Ponta Delgada, Instituto Cultural de Ponta Delgada [crónicas]. (1965), Auto do Natal. Atlântida, 9, n.º 6: 195-211.

Póstumos: (1982), Cancioneiro Geral dos Açores. Angra do Heroísmo, Direcção Regional dos Assuntos Culturais, 3 vols.. (1982), Adagiário Popular Açoriano. Angra do Heroísmo, Secretaria Regional da Educação e Cultura, 2 vols..

 

Bibl. Aires, F. (2002), Armando Cortes-Rodrigues e Eduíno de Jesus-correspondência. Ponta Delgada, Museu Carlos Machado. Id. (1991), Armando Cortes-Rodrigues, poeta e prosador. Insulana, Ponta Delgada, 47: 175-188. Carvalho, R. G. (1985), Armando Côrtes-Rodrigues: o homem e o poeta. Vila Franca do Campo, Ed. Ilha Nova. Costa, F. C. (s.d.), Bibliografia de Armando Côrtes-Rodrigues. s.l., s.n.. Costa, M. N. (1996), Cartas de Integralistas a Armando Côrtes-Rodrigues. Santa Cruz da Graciosa, Museu da Ilha Graciosa. Jesus, E. (1959), A Poesia de Armando Côrtes-Rodrigues ? Pensamento e Estética. Tempo Presente, Lisboa, Outubro, 6: 6-15. Meireles, C.(1998), Cartas de Cecília Meireles a Armando Cortes-Rodrigues (org. e notas de Celestino Sachet). Ponta Delgada, Instituto Cultural de Ponta Delgada. Pavão, J. A. (1990), Domingos Rebelo e Armando Côrtes-Rodrigues. Insulana, 46: 273-279. Pavão JR, J. A. (1985), Armando Côrtes-Rodrigues: o homem e o etnógrafo. Vila Franca do Campo, Ed. Ilha Nova. Sachet, C. (1990), Armando Cortes-Rodrigues e (os poemas de) Orpheu. Insulana, 46: 5-30. Id. (1991), Homenagem à memória de Armando Côrtes-Rodrigues: O Tempo ? um estado de não ser-se na poética de Armando Côrtes-Rodrigues. Insulana, 47: 159-174. Zacarias, A. (Pd) (1969), Cantata de louvor ao poeta Armando Cortes-Rodrigues. s.l., s.n..