[Fenais da Luz, ilha de S. Miguel, 22 ou 23.08.1626 ? Lisboa, 20.12.1698] Filho de Francisco de Andrade Cabral e de Ana do Quental de Matos, nasceu na quinta da família, nos Fenais da Luz. O pai era filho de Pedro Fernandes Furtado e de Filipa de Andrade Cabral e pertencia à oligarquia urbana de Ponta Delgada, tendo servido como procurador do concelho em 1626 e como vereador em 1646 e 1661, exercendo ainda os ofícios de lealdador-mor dos pastéis, em 1628, e de capitão de uma companhia das ordenanças da cidade e capitão entretenido, por carta régia de 28 de Abril de 1656. Por seu lado, a mãe era filha de Francisco do Quental de Matos e Catarina Ferreira Escórcia, descendendo de uma das mais importantes famílias da nobreza municipal micaelense. Para além de Bartolomeu, o casal teve outros filhos, dos quais destacamos Pedro de Matos do Quental e José Freire de Andrade, ambos elementos activos da governança de Ponta Delgada. Desconhecemos como decorreram, entre a cidade e a quinta dos Fenais da Luz, a infância e a primeira adolescência de Bartolomeu do Quental, parece que foi um aluno aplicado, que se confessava e comungava com muita frequência e ainda que apreciava assistir a ofícios divinos e pregações. Em 1643, partiu para Lisboa, seguindo depois para Évora, onde frequentou a Universidade local, o Real Colégio das Artes, tendo-se licenciado em Filosofia em Maio de 1647 e obtido o grau de Doutor no mês de Junho. Matriculou-se no curso de Teologia, ainda em Évora, mas passou para Coimbra em 1650, sendo já diácono dois anos mais tarde e pregando aos universitários. Em Dezembro de 1652, foi ordenado presbítero. Em 1654, estando vaga a vigararia da igreja matriz da Ribeira Grande, Bartolomeu do Quental concorreu e ganhou o lugar, por unanimidade de votos. No entanto, quando parecia que ia regressar à terra natal e rever a família, renunciou à nomeação, optando por pregar na região de Lisboa. A intensidade e qualidade do seu esforço eram publicamente reconhecidas e a 22 de Outubro de 1654 foi nomeado capelão-confessor da capela real e pregador extra-numerário. Apesar das tarefas que, desde essa data, desempenhou na corte, Bartolomeu do Quental não descurou a pregação itinerante, que continuou a manter. Após a morte de D. João IV, ocorrida em 1656, em plena Guerra da Restauração, Bartolomeu do Quental manteve o seu fervor missionário no território subordinado à arquidiocese de Lisboa, procurando, em simultâneo, reformar os capelães e clérigos da Capela Real. Em 1659, instituiu uma congregação de sacerdotes, com estatutos próprios, que organizavam a vida individual e colectiva e, de certa forma, já prenunciavam o que viria a ser a Congregação do Oratório. Entre 1664 e 1667, um período marcado por lutas intestinas na corte, prosseguiu as pregações no arcebispado de Lisboa, as visitas a hospitais e os exercícios espirituais, afastando-se progressivamente do partido régio e apostando na aproximação ao Infante D. Pedro. Em 1667, com a deposição de D. Afonso VI, Bartolomeu do Quental, beneficiando das suas boas relações com o Infante, preparou a fundação do Oratório como «associação de padres seculares, sem quaisquer votos» (Santos, 1982: 36). Inicialmente, o cabido ? a Sé de Lisboa estava então vaga ? recusou as propostas do sacerdote micaelense, mas, a 30 de Dezembro de 1667, antes da reunião decisiva, um dos cónegos que mais se opunha ao projecto morreu de um ataque e o cabido, impressionado, votou unanimemente a favor da obra idealizada pelo padre Bartolomeu do Quental. A provisão foi passada a 8 de Janeiro de 1668 e, a 16 de Julho desse ano, em Lisboa, nas Fangas da Farinha, na Rua Nova do Almada, nasceu a Congregação do Oratório, cujos estatutos seriam aprovados pelos papas Clemente X e Inocêncio XI. Em 1674, os Oratorianos mudaram-se para a Igreja do Espírito Santo, na mesma rua. A partir de Lisboa, o Oratório espalhou-se pelo país, com grande incidência nas províncias nortenhas. A multiplicação das casas levou o padre Bartolomeu do Quental a pensar na sua unificação legal, procurando seguir o modelo do Oratório francês, mas recusando a ostentação e a música. A partir do reino português, os Oratorianos implantaram-se no Brasil (Pernambuco) e na Índia (Goa) mas, apesar do seu fundador ser natural de S. Miguel, nenhuma casa oratoriana foi instalada nos Açores. Desde a fundação do Oratório português até à data da sua morte, em 1698, o padre Bartolomeu do Quental escreveu diversos livros de meditações e dois volumes de sermões. Quando morreu, vítima de uma pleurisia, tinha fama de santo e vários milagres lhe foram atribuídos após o falecimento. A sua obra deixou profundas e bem sucedidas marcas, dele podendo ser dito, com o verbo do padre António Cordeiro, que Ponta Delgada bem «se pòde gloriar de dar tam egregio parto, & em virtude, & letras tão insigne» (Cordeiro, 1981: 206). José Damião Rodrigues
Obras principais: (1665), Sermam funebre nas exequias da Excellentissima Senhora D. Leonor Maria de Menezes, condeça de Atouguia. Lisboa, Officina de Henrique Valente de Oliveyra. (1666), Meditaçoens da infancia de Christo Senhor Nosso da Encarnaçam ate os trinta annos de sua idade, com hu[m]a direçam para a oraçam mental & mais exercicios espirituaes. Lisboa, por Domingos Carreiro. (1679), Meditaçoens da sacratissima payxão, e morte de Christo Senhor nosso?. Lisboa, Officina de Joam da Costa. (1683), Meditaçoens da gloriosa resurreyçam de Christo Senhor Nosso: sua admiravel ascenção, amorosa descida do Espirito Santo, e finissimos excessos do Divinissimo Sacramento: com a direcção para a oração mental e mais exercicios espirituaes. Lisboa, Officina de Miguel Deslandes. (1692-1694), Sermoens do Padre Bartholameu do Quental. Lisboa, Officina de Miguel Deslandes. (1695-1699), Meditaçoens das Domingas do anno. Lisboa, Officina de Miguel Deslandes, 3 vols..
Bibl. Cordeiro, A. (Padre) (1981), Historia Insulana das Ilhas a Portugal Sugeytas no Oceano Occidental. Edição fac-similada da edição princeps de 1717, Angra do Heroísmo, Secretaria Regional da Educação e Cultura. Martins, A. C. (1981), QUENTAL, Bartolomeu do (1626-1698). In Joel Serrão (dir.), Dicionário de História de Portugal. Porto, Livraria Figueirinhas, V: 218-220. Rodrigues, J. D. (1994), Poder Municipal e Oligarquias Urbanas: Ponta Delgada no Século XVII. Ponta Delgada, Instituto Cultural de Ponta Delgada. Id. (2001), Cinco Séculos, Cinco Nomes. O século XVII. In Ponta Delgada. Cinco Séculos de Concelho (1499-1999). Ponta Delgada, Câmara Municipal de Ponta Delgada: 189-194. Santos, E. (1982), O Oratório no Norte de Portugal. Contribuição para o estudo da história religiosa e social. Porto, Instituto Nacional de Investigação Científica.