Governo dos Açores - Secretaria Regional da Educação, Ciência e Cultura - Direção Regional da Cultura

Sagrada-Família, D. Alexandre da (Fr.)

[N. Matriz, Horta, 22.5.1737 ? m. Angra do Heroísmo, 23.4.1818 (Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Angra do Heroísmo, Óbitos da Sé, Secção paroquiais, Liv. 13, 1799-1819: 162v.)]. Bispo. Alexandre Ferreira da Silva era o nome no século deste filho de José Ferreira da Silva, alferes de ordenanças, e de Antónia Margarida Garrett. Foi ordenado presbítero em 1758. Professou no Seminário dos Menores Observantes Reformados de Brancanes (franciscanos, em Setúbal), em 13 de Junho de 1762 (Monteiro, 1974: 8), adoptando o nome de Alexandre da Sagrada-Família. Segundo Lima (1943: 554), foi em Brancanes (Setúbal) que estudou, tornando-se erudito e orador de fama. Segundo Macedo (1959: 67), estudou na Universidade de Coimbra onde se formou em Teologia (1759, Monteiro, 1974: 8). Pereira (1995), refere também Direito Canónico e Civil.

Tornado conhecido na corte, foi provido bispo de Malaca e Timor por D. José I, e sagrado em 24 de Fevereiro de 1783 (Monteiro, 1974: 12-13). Todavia, segundo Lima (1943: 554), Pereira (1939: 13) e Pereira (1995: 276), não seguiu esse destino mas sim o de Angola e Congo, em 1784 (Monteiro, 1974: 13), antes de executada a Bula que o confirmava bispo daquela diocese. Devido a desentendimentos com o capitão-general de Angola, o governo português foi adiando sucessivamente a execução da Bula de nomeação para esta diocese. Desgostoso, regressou a Lisboa em 1788 (Monteiro, 1974: 15).

Anos mais tarde, veio juntar-se ao irmão, João Carlos Leitão, juiz de fora, e à cunhada na ilha Terceira. O desejo de prover à situação financeira de parentes e de amigos fê-lo deslocar-se duas vezes ao Brasil a fim de obter do Príncipe Regente benesses que, geralmente, lhe foram concedidas, e o Príncipe elegeu-o bispo de Angra, em 1812, cargo de que só viria a tomar posse em 1816, devido à oposição do cabido por lhe faltar o Exequatar régio (Macedo, 1871, 1: 315; Pereira, 1939: 14).

Tem sido destacada a sua personalidade intelectual (cf. Monteiro, 1974; Silveira, 1977). Pedro da Silveira que incluiu em antologia o seu poema «à meninice», considera que «D. Frei Alexandre não é poeta só nos versos, já que de puro poeta é muitas vezes a prosa dos seus sermões e pastorais» (Silveira, 1977: 48).

Em 4 de Novembro de 1863, a Câmara Municipal da Horta, presidida por António José Ferreira Rocha, deu o seu nome ao Largo do Paúl (Biblioteca Pública e Arquivo Regional da Horta, Câmara Municipal da Horta, Vereações, Liv. 32: 229). Segundo Macedo (1871, 2: 307), o bispo havia nascido e sido educado neste local. Todavia, segundo a Agência Ecclesia, nasceu numa casa da Rua de Santa Ana e foi baptizado a 2 de Junho de 1737 na Matriz do Salvador, pelo ouvidor eclesiástico Domingos Pereira Cardoso. A mesma Câmara Municipal, presidida pelo conselheiro António Patrício da Terra Pinheiro, deliberou, em 30 de Novembro de 1877, mandar colocar uma lápide na casa onde nasceu (Câmara Municipal da Horta, Vereações, Liv. 39: 245 e segs.).

Era tio de Almeida Garrett, por via paterna. Luís M. Arruda

Obras (segundo Monteiro, 1974: 437-439):

Manuscritas: Cartas a António Ribeiro dos Santos (Biblioteca Nacional, Fundo Geral 7698) [quatro cartas]. Diário da jornada para o Loreto (Biblioteca Nacional, Fundo Geral 322) [Cópia mandada realizar por António Ribeiro dos Santos]. Diário da viagem de Cadiz a Genova (Biblioteca Nacional, Fundo Geral 323) [Cópia mandada realizar por António Ribeiro dos Santos]. Manifesto justificativo que fez D. Fr. Alexandre Missionario de Brancanes, e bispo de Malaca, a Soberana quando elle se achava governador do Bispado de Angola fazendo as vezes de seu proprio bispo (Biblioteca Nacional, Var. 3786). Notas que se hão-de juntar aos Diarios das suas viagens (Biblioteca Nacional, Fundo Geral 324). [Manuscrito doado por António Ribeiro dos Santos]. Noticias de Tibuli extrahidas de Crochiante e de Fabio Croce (Biblioteca Nacional, Fundo Geral 287). Sermão na Entrada e profissão de hua religiosa (Biblioteca Nacional, Fundo Geral 3185) [cópia mandada realizar por António Ribeiro dos Santos]. Sermão que pregou na profissão de hua religiosa do Convento de Jesus de Setuval (...) offerecido a Madre Soror Anna ... Religiosa do mesmo Convento (Biblioteca Nacional, Fundo Geral 3185) [mandado copiar por António Ribeiro dos Santos]. Sermão de Santa Anna (Biblioteca Nacional, Fundo Geral 3310) [mandado copiar por António Ribeiro dos Santos]. Sermão sobre a penitência (Sala F. L.. Mov., 5-15-4).

Impressas: A Alcipe (in Obras Poeticas de D. Leonor de Almeida, Marquesa de Alorna, vol. I, Lisboa, Imprensa Nacional, 1844: 213-214) [poesia, com o pseudónimo Sílvio, dedicada a marquesa de Alorna, de quem foi director espiritual]. Cântico de Moisés (apud. A. Ferreira de Serpa, D. Alexandre da Sagrada Família (...), in Anais da Bibliotecas e Arquivos, (2), 7: 55-56, 1926) [poesia]. Devoção das Dores da Virgem Mãi de Deos por hum seu devoto (ed. anónima), Lisboa, 1782 [foram feitas reedições em 1817, 1854, 1897]. [Segundo Pereira (1939: 14), livro de devoção sobre as Dores de Maria Santíssima onde fez, em tercetos, a tradução de Stabat Mater]. Pastoral (S. Paulo da Assunção de Luanda, 6 de Dezembro de 1785; in Jornal de Coimbra, vol. 16, n.º 85, parte II, 1820: 16-24). Pastoral (S. Paulo da Assunção de Luanda, 1 de Fevereiro de 1786; in Jornal de Coimbra, vol. 15, n.º 84, parte II, 1820: 215-221). Pastoral (Angra, 14 de Novembro de 1816; in O Investigador Portuguez em Inglaterra, vol. 17, n.º 68, Fevereiro de 1817: 488-489). Stabat Mater (apud Alberto Pimentel, Historia do culto de Nossa Senhora em Portugal, Lisboa, Liv. Ed. Guimarãres, Libanio & Cia., s.d.: 42-43).

 

Fontes: Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Angra do Heroísmo, Óbitos da Sé, Secção paroquiais, Liv. 13, 1799-1819: 162v. Biblioteca Pública e Arquivo Regional da Horta, Câmara Municipal da Horta, Vereações, Liv. 32: 229. Câmara Municipal da Horta, Vereações, Liv. 39: 245 e segs..

 

Bibl.: Lima, M. (1943), Anais do Município da Horta. Vila Nova de Famalicão, Oficinas Gráficas Minerva. Macedo, A. L. S. (1959 [1880-1882]), Fayalenses distinctos. Boletim do Núcleo Cultural da Horta, 2, 1: 65-118 [transcrito de Grémio Litterario, Horta, n.º 1 (15 de Maio de 1880) a n.º 48 (15 de Junho de 1882)]. Monteiro, O. M. C. P. (1974), D. Frei Alexandre da Sagrada Família. A sua espiritualidade e a sua poética. [Coimbra], Acta Universitatis Conimbrigensis. Pereira, J. A. (1939), Padres Açoreanos, Bispos ? publicistas ? religiosos. Angra do Heroísmo, União Gráfica Angrense: 13-14. Id. (1995), Memória histórica sobre açorianos que foram bispos. In Livro do primeiro congresso açoriano que se reuniu em Lisboa de 8 a 15 de maio de 1938. Ponta Delgada, Jornal de Cultura [primeira edição de 1940]. Silveira, P. (1977), Antologia de Poesia Açoriana do século XVIII a 1975. Lisboa, Sá da Costa.