[N. Lousã, 1.11.1830 ? m. Ponta Delgada, 20.4.1911] Investigador da história local. Fez o tirocínio de Farmácia em Montemor-o-Velho e em Coimbra, em cuja Universidade fez exame prático, em 1851. No ano seguinte, transferiu-se para Ponta Delgada onde desempenhou funções de administrador da farmácia do hospital da Misericórdia local e, em 1901, viria a ser presidente da Junta Geral do Distrito.
Provavelmente de iniciação maçónica em Coimbra, a sua vinda para Ponta Delgada terá sido enquadrada nos objectivos locais da Obra ? dinamizar a imprensa, consolidar o associativismo, desenvolver estudos (cf. Riley, 2001). Em Ponta Delgada, pertenceu, pelo menos às lojas 17 de Março de 1866, 1.º de Janeiro e Companheiros da Paz, sabendo-se que na primeira usava o nome simbólico de Kossut. A correspondência do Grande Oriente Lusitano Unido, além de o identificar como venerável da Loja 1.º de Janeiro, refere-o por «Poderoso Irmão Francisco Maria Supico, Cavaleiro Rosa Cruz». Sabendo-se que a Loja 1.º de Janeiro praticava o Rito Escocês isso coloca Francisco Supico, pelo menos no Grau 18 deste Rito (Lopes, 2008: 316).
Foi colaborador da folha quinzenal dedicada à literatura moral e religiosa Templo, de que veio a ser administrador; do semanário literário, comercial, agrícola e noticioso Estrela Oriental, da Ribeira Grande; do jornal de ciências, literatura, indústria e notícias Santelmo, de que foi administrador e redactor principal; do semanário literário Revista Açoriana; do semanário político Correio Michaelense, de que passou a redactor principal em 1858, e do jornal político A Persuasão, de que foi redactor, responsável e proprietário desde 1867.
Foi no semanário A Persuasão que, entre 5 de Junho de 1895 e 19 de Abril de 1911, publicou, numa secção semanal, sob o título «Escavações», uma série, longa e diversificada, de crónicas históricas, geralmente curtas, interessando às ilhas dos Açores, particularmente à ilha de S. Miguel. Como refere na primeira dessas crónicas, elas procuram recordar «factos passados n?esta terra há pouco mais de meio seculo» e que estão fundamentadas em «raras colecções de nossos antigos jornaes» (Persuasão (A), 1895).
Os seus artigos neste semanário estão coligidos em três volumes, a que José Manuel Motta de Sousa acrescentou um quarto com índices, todos editados pelo Instituto Cultural de Ponta Delgada. Segundo Riley (2001), as notícias e documentos compendiados ao longo daqueles três volumes, raramente anteriores ao primeiro quartel de oitocentos, configuram um projecto cujo objectivo é a construção da memória local a partir das Expedições Liberais, acontecimentos a que as ilhas açorianas se encontram fortemente ligadas e que assinalam, simbolicamente, a sua presença na fundação do Portugal Liberal.
O seu interesse pela divulgação da história açoriana está bem patente na inclusão de notícias históricas sobre os três distritos açorianos no Almanach do Archipelago dos Açores, estatistico, historico, recreativo e noticioso para 1865, 1866 e 1867, cujas edições coordenou, e na edição, em 1876, de parte do texto de Saudades da Terra de Gaspar Frutuoso.
Desenvolveu actividade considerável como associativista, tendo sido fundador ou director de várias instituições de caridade e de recreio, nomeadamente, Centro Civilizador e Protector das Classes Laboriosas, Grémio Recreativo, Liga Micaelense de Instrução Pública, Sociedade Harmonia de Ponta Delgada, Sociedade Protectora de Música Vocal, Sociedade Recreativa de Ponta Delgada. Era sócio correspondente da Sociedade Farmacêutica Lusitana e membro da Sociedade de Geografia de Lisboa, o mais antigo em S. Miguel, quando morreu.
Detinha a Grã Cruz da Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa (1901). Luís M. Arruda
Obras. (1864), Poucas linhas sobre o tabaco. Ponta Delgada, Typ. da Persuasão. (1864), Almanach do Archipelago dos Açores, estatistico, historico, recreativo e noticioso para 1865, Ponta Delgada, Typ. da Persuasão. (1865), Almanach do Archipelago dos Açores, estatistico, historico, recreativo e noticioso para 1866, Ponta Delgada, Typ. da Persuasão. (1866), Almanach do Archipelago dos Açores, estatistico, historico, recreativo e noticioso para 1867, Ponta Delgada, Typ. da Persuasão. (1869), Almanach do Archipelago dos Açores, estatistico, historico, recreativo e noticioso para 1868, Ponta Delgada, Typ. Chronica dos Açores. (1876), Saudades da Terra: História genealogica de Sam Miguel. Ponta Delgada, Typ. do Amigo do Povo [editor literário, conjuntamente com José Pedro Cardozo]. (1920), Mocidade de Theophilo: subsídios bio-bibliographicos para o estudo da obra de Theophilo Braga. Lisboa, Instituto Theophileano. (1995), As ?Escavações? de Francisco Maria Supico. Ponta Delgada, Instituto Cultural de Ponta Delgada, 3 vols.. (s.d.), Almeida Garrett: a propósito da celebração do primeiro centenário do seu nascimento. S.l., s.e..
Bibl. Persuasão (A) (1895), Ponta Delgada, n.º 1742, 5 de Junho, Escavações. Lopes, A. (2008), A maçonaria portuguesa e os Açores 1792-1935. Lisboa, Ensaius. Riley, C. G. (2001), Na botica da História. In Sousa, J. M. M. de, Índices das «Escavações» de Francisco Maria Supico. Ponta Delgada, Instituto Cultural de Ponta Delgada, 4: XIII-XXV.