Das ilhas do Pico, Faial e Terceira ? Os Evangelho que se radicaram no Pico e Faial nos finais do século XV descendiam por linha feminina do tronco deste apelido no continente. O primeiro de que tenho notícia é Gaspar Rodrigues Evangelho que casou na ilha do Pico com Filipa Pereira, possível parente de Gonçalo Pereira, casado com Maria Fernandes, ou de João Garcia (Pereira), residentes na vizinha ilha do Faial na mesma época. Este genearca era filho de Rui Lourenço, escudeiro da vila de Óbidos, e de sua mulher Isabel Martins Evangelho. Esta última foi uma das filhas de Martim Esteves Evangelho, homem honrado, natural da Beira, que residiu em Atouguia com sua mulher Isabel Fernandes, casal com que os genealogistas dão começo à linhagem dos Evangelhos em Portugal. Ignora-se se Gaspar Rodrigues Evangelho e sua mulher Filipa Pereira foram ascendentes de Fernão Álvares Evangelho, que o cronista Gaspar Frutuoso dá como residindo no século XVI em S. Roque da ilha do Pico onde era ?verdadeiro rei dela? mas, em contrapartida, sabe-se que tiveram um filho, Rui Dias Evangelho, que foi ouvidor nas ilhas do Pico e Faial, tendo casado nesta última com Isabel de Carvalho Peixoto, filha bastarda, legitimada por carta de D. João III de 19.6.1539, com todos os foros de nobreza de seu pai de quem foi herdeira universal. Esse pai, Jorge Peixoto de Carvalho que, sendo casado, a tivera de Maria Lopes, moça solteira da freguesia dos Cedros, no Faial, homiziou-se pela morte de certo fidalgo e veio a casar na mesma ilha, onde foi juiz ordinário, com Inês Fernandes, de quem não teve geração. Esse Jorge de Carvalho Peixoto era filho de Álvaro Peixoto Pereira, fidalgo da Casa Real e 5.º morgado de Pousada, em Guimarães, e de sua mulher Inês de Carvalho; neto materno de Diogo Afonso de Carvalho, senhor da Quinta do Mouquido e Desembargador de D. Afonso V, e de sua mulher Branca Pinheiro.
Recuo à ascendência de Isabel Peixoto de Carvalho, mulher de Rui Dias Evangelho, uma vez que a ascendência de sua bisavó Branca Pinheiro (tia de Maria Pinheiro, avó de D. António de Ataíde, 1.º conde da Castanheira e valido de D. João III) deu azo a que lhe levantassem o labéu de cristã-nova e fruto de coito danado, na sequência das acusações lançadas sobre a linhagem destes Pinheiros (que viriam a ser ascendentes de toda a grande nobreza de Corte em Portugal) por Damião de Góis no título de Sousas do seu livro genealógico manuscrito que se conserva nos Reservados do AIN/TT. O processo foi lento, mas Isabel de Carvalho Peixoto acabou por ver reconhecida a sua limpeza de sangue e foi isentada de finta em 15.6.1574.
Rui Dias Evangelho e sua mulher tiveram dois filhos e uma filha. O filho primogénito, Francisco Peixoto, casou com Catarina de Brum da Silveira, o secundogénito chamou-se Gaspar Pereira Evangelho, e a filha Beatriz Evangelho, veio a casar com António Brum da Silveira, de quem teve dilatada descendência, que se ligou a diversas famílias da nobreza do Faial, como os Terras, Pereiras de Lacerda e Bettencourt, com geração actual, entre a qual se contam os Paim de Bruges Bettencourt.
Na ilha Terceira veio fixar-se, no terceiro quartel do século XV, um outro Rui Dias Evangelho que os genealogistas dizem haver casado com Maria Rodrigues. Parece extremamente provável que pertencesse também ao tronco do apelido, e pode ser identificado com o Rui Dias Evangelho referido na Chancelaria de D. João II, numa carta régia de 7.6.1492, em que relata como, sendo ainda casado no continente com uma Isabel Lopes (e mesmo depois dela ter morrido), vivera na ilha Terceira onde, durante 10 ou 12 anos, mantivera afeição carnal com Catarina Gonçalves, mulher solteira, sua manceba teúda e manteúda. Desta manceba finalmente se apartara para viver bem e honestamente.
Se não se trata de um terceiro Rui Dias Evangelho, contemporâneo, e para mais também radicado na ilha Terceira, o genearca dos Evangelhos terceirenses terá então casado com Maria Rodrigues posteriormente a 1492. O casal teve, pelo menos, um filho e três filhas. O filho, Diogo Lopes Evangelho, casou com Francisca Trigueiros de Badilho, de quem teve geração que se aliou entre outros, aos Paim, Câmaras e Fagundes. A filha mais velha, Isabel Rodrigues Evangelho, casou com Nuno Cardoso, cunhado do capitão da vila da Praia, Álvaro Martins Homem. Este Nuno Cardoso, certamente muito mais velho do que a mulher, testou em 1518, mandando que o sepultassem na capela das Chagas, que estava construindo no convento franciscano da Praia. Este casal também deixou geração. A secundogénita casou com Diogo de Barcelos Machado, e encontro menção de uma terceira filha, Beatriz Evangelho, casada com Diogo Homem, referidos em 1531 no testamento de seu (dela) sobrinho Henrique Cardoso. O apelido Evangelho espalhou-se, alastrando a outras ilhas, designadamente a de S. Jorge, e perdurou em certas freguesias rurais, como a da Ribeirinha, na ilha Terceira, onde ainda hoje se encontram Machados Evangelhos. Manuel Lamas