[N. Matriz, Ponta Delgada, S. Miguel, 21.6.1819 ? m. Sé, Angra do Heroísmo, 14.6.1872] Era filho de Vicente José Borges (comerciante lisboeta, fugido das invasões francesas) e de Maria Feliciana de Medeiros Borges (natural da Bretanha). Formou-se bacharel em Direito na Universidade de Coimbra em 1841, tendo fixado residência e escritório na cidade do Porto. Nessa cidade conheceu a sua futura esposa, Ana Emília de Castro Silva, membro da casa dos Viscondes de Santo António do Vale da Piedade, com a qual teve duas filhas, Maria Emília Borges e Laura Borges Horta.
Félix Borges de Medeiros foi um homem da Regeneração. No âmbito desse movimento, foi nomeado para o cargo de Governador Civil do Distrito de Ponta Delgada, em 1851, tomando posse a 25 de Julho. Desempenhou essas funções até 1868, tendo elaborado 23 relatórios dirigidos ao Governo e apresentados à Junta Geral. Seria demitido do cargo pelo Marquês de Ávila e Bolama por «não querer aceitar numa luta eleitoral um papel pouco simpático que o governo lhe distribuíra e cujo desempenho importaria a interrupção de relações com alguns dos seus amigos» (Supico, 1994).
Durante o tempo em que exerceu as funções de Governador Civil em S. Miguel muitos foram os contributos que legou àquela ilha.
Logo depois de assumir o cargo criou, em 12 de Agosto de 1851, uma Comissão de Obras Públicas com vista à definição de prioridades e estratégias nesse campo, nomeadamente no que dizia respeito às vias de comunicação.
Fundou-se, em Fevereiro de 1852, o Liceu Nacional de Ponta Delgada, a funcionar então no extinto Convento dos Gracianos; inauguraram-se, em Setembro de 1861, os tão reclamados trabalhos de construção do porto artificial de Ponta Delgada; construiu-se o edifício balnear das Furnas e um depósito de água para Ponta Delgada; construiu-se a nova penitenciária de Ponta Delgada, sita à Boa Nova, em 1856, deixando a cadeia municipal de ocupar as precárias instalações no edifício dos Paços do Concelho; estabeleceu-se a navegação a vapor entre Lisboa e os Açores; lutou-se pela obtenção da livre cultura e fabrico de tabaco nos Açores e multiplicaram-se as escolas, tanto as primárias como as oficiais e as municipais. Em 1862, chegou mesmo a solicitar ao governo a abolição dos direitos aduaneiros entre as ilhas de Santa Maria e de S. Miguel, defendendo o pagamento de um «subsídio» governamental para suportar uma embarcação que fizesse a ligação marítima regular entres aquelas duas ilhas.
Em 1855, enquanto Governador Civil, recebeu a visita do Príncipe Napoleão Bonaparte e da Princesa Clotilde, que aportaram a S. Miguel a 10 de Julho daquele ano.
Lutou ainda contra várias crises alimentares que assolaram a ilha durante a década de 50 e 60 do século XIX, procurando sempre favorecer nas suas medidas os estratos sociais mais pobres e dedicou grande atenção às questões sanitárias (como, por exemplo, os casos de «Colera Morbus» em 1856 ou a crise de «croup» em 1860), comerciais, estatísticas e às questões de beneficência.
Nesse último ponto, destaque-se a nomeação, em 1852, de uma comissão, presidida por D. Frei Estevão de Jesus Maria da Costa, bispo dos Açores, para organizar a fundação de um asilo de mendicidade. Objectivo falhado que se voltaria a repetir em 1864, mas com o mesmo resultado. A honra da sua inauguração caberia a um outro Governador Civil. Porém, se não logrou inaugurar um asilo de mendicidade, conseguiu-o com o Asilo de Infância Desvalida de Ponta Delgada, a 15 de Dezembro de 1855, tendo sido presidente da comissão encarregue de elaborar os estatutos do Asilo e presidente da Irmandade Protectora da Infância Desvalida.
Podemos ainda acrescentar que foi presidente da Junta Administrativa das Obras do Porto Artificial de Ponta Delgada.
Aquando da sua morte ocupava, desde finais de 1869, o cargo de Governador Civil do Distrito de Angra do Heroísmo. Segundo constou na imprensa local coeva, Félix Borges de Medeiros morreu em má situação económica, resultado, diziam alguns jornalistas, da honra e rectidão com que exerceu sempre os cargos públicos que ocupou. Ana C. Moscatel Pereira
Bibl. Andrade, M. J. (1996), Políticos Açorianos. Nótulas Biográficas. Ponta Delgada, Jornal de Cultura: 151-152. Cordeiro, C. A. C. (1990), Insularidade e Continentalidade. Os Açores e as contradições da Regeneração (1850-1870). Ponta Delgada, Universidade dos Açores: 32. Diário dos Açores (1872), Ponta Delgada, n.º 705, 15 de Junho. Id. (1872), n.º 708, 19 de Junho. Dias, U. M. (1940), A Assistência Pública no Distrito de Ponta Delgada. Vila Franca do Campo, Empresa Tipográfica Lda. Ecco Michaelense (1872), Ponta Delgada, n.º 95, 15 de Junho. Id. (1872), n.º 96, 22 de Junho. Maia, F. A. M. F. (1994), Novas Páginas da História Micaelense (Subsídios para a História de S. Miguel) 1832-1895. Ponta Delgada, Jornal de Cultura. A Persuasão (1872), n.º 544, 19 de Junho. Supico, F. M. (1994), Escavações. Ponta Delgada, Instituto Cultural de Ponta Delgada, I, II, III.