[N. Ponta Delgada, 8.6.1869 ? m. ibidem, 18.9.1938] Nasceu numa casa na Rua Coronel Miranda, Ponta Delgada. Casado, foi pai de dois filhos, um, Alfredo da Câmara Júnior, morreria em Abril de 1922, e o outro, Liberal da Câmara, oficial da Armada Portuguesa. Para além da morte do seu filho primogénito, Alfredo da Câmara assistiria, ainda, à morte de sua irmã, Inês da Câmara, em Abril de 1899.
A sua intervenção social pode ser vista em inúmeras áreas, fruto da sua versatilidade, mas também, com certeza, da sua vontade de contribuir para o desenvolvimento da sociedade onde se inseria.
Homem ligado à imprensa, a 5 de Dezembro de 1896 funda O Reporter, do qual foi igualmente redactor e administrador, jornal inicialmente dedicado aos interesses da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Ponta Delgada, passando, no ano seguinte, a concentrar-se na defesa dos ideais socialistas.
De facto, através das páginas daquele jornal, Alfredo da Câmara difundiu e incentivou a causa operária entre os micaelenses recorrendo a inúmeros apelos à instrução, à união e à luta pela melhoria de vida e de trabalho. O culminar dessa luta socialista seria a primeira celebração do 1.º de Maio nos Açores, em 1897, iniciativa de Alfredo da Câmara e da redacção de O Reporter.
Para além deste jornal, Alfredo da Câmara esteve ainda envolvido em outros projectos da imprensa regional como A Ilha, fundado em Fevereiro de 1897, e cuja administração deixaria em Março de 1898.
Para além da sua faceta de jornalista, foi ainda um proeminente bombeiro voluntário. Entraria para a corporação dos bombeiros voluntários de Ponta Delgada em Março de 1892 como sócio activo, tendo permanecido até 1897. Só voltaria à corporação em 1900. Em 1905 era nomeado 1.º Patrão da 3.ª Secção e secretário da Direcção. Em 1908 seria eleito para 2.º comandante e no ano seguinte era já 1.º comandante daquela corporação, cargo que ocuparia, pelo menos, até 1912, cumulativamente com o cargo de inspector de incêndios. Em Outubro de 1917 saía novamente dos bombeiros voluntários para voltar em 1920, desta feita para ocupar o cargo de presidente até inícios da década de 30.
Foi igualmente um homem apaixonado pelo desporto, principalmente o náutico. Desta forma, o seu nome é indissociável da fundação do primeiro clube náutico de Ponta Delgada ? o Clube de Regatas Ponta Delgada ? cujos estatutos seriam aprovados em Junho 1901, ocupando a sua presidência. Deste Clube, futuro Clube Naval de Ponta Delgada, foi ainda seu comodoro. Foi igualmente a paixão pelo mar que o levou a investir e incentivar o desenvolvimento dos Serviços de Socorros a Náufragos da Associação dos Bombeiros Voluntários, tendo sido, posteriormente, condecorado com uma medalha de Socorros a Náufragos.
Em tudo o que fazia, deixava semente de ideais e instituía projectos. Foi fundador e presidente da Associação de Beneficência Autonómica Micaelense, cujos estatutos seriam aprovados em Setembro de 1901, e fundador da Sociedade Micaelense Protectora dos Animais, tendo escrito vários artigos na imprensa sobre o assunto. Foi fiscal do Posto de Desinfecção tendo escrito, também neste caso, muitos artigos para O Reporter sobre questões de limpeza e saúde públicas. No mesmo jornal, Alfredo da Câmara estampou ainda inúmeros artigos sobre questões de filantropia e nunca se cansou de apelar para o auxílio a instituições como o Asilo de Mendicidade e o Asilo de Infância Desvalida, dos quais seria, respectivamente, director e sócio protector. Foi também mordomo do Hospital, funcionário da Junta Geral e exerceu funções de administrador do concelho de Ponta Delgada.
Alfredo da Câmara viveu os últimos anos da sua vida numa casa da rua do Melo. Logo após a sua morte, uma grupo de amigos juntou-se e apresentou uma proposta à Câmara Municipal de Ponta Delgada no sentido de se alterar, em forma de homenagem, o nome daquela rua para rua Alfredo da Câmara. A pretensão não achou resposta oficial. No entanto, as descrições do seu serviço fúnebre demonstram o seu mérito e o reconhecimento do público. Ana C. Moscatel Pereira (Set.2006)
Bibl. Açoriano Oriental (1938), Ponta Delgada, n.º 5349, 24 de Setembro. Diário dos Açores (1938), Ponta Delgada, n.º 17.980, 17 de Setembro. Id. (1938), Ponta Delgada, n.º 17.982, 20 de Setembro. Pereira, A. C. M. (2004), Bombeiros Voluntários de Ponta Delgada:125 anos ao serviço da comunidade. Ponta Delgada, Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Ponta Delgada/Universidade dos Açores: 243-260. O Reporter (1897), Ponta Delgada, n.º 6, 11 de Janeiro. Id. (1897), Ponta Delgada, n.º 22, 1 de Maio. Id. (1897), Ponta Delgada, n.º 23, 9 de Maio. Id. (1897), Ponta Delgada, n.º 33, 18 de Julho. Id. (1898), Ponta Delgada, n.º 66, 6 de Março. Id. (1899), Ponta Delgada, n.º 123, 9 de Abril. Id. (1900), Ponta Delgada, n.º 165, 28 de Janeiro. Id. (1900), Ponta Delgada, n.º 166, 4 de Fevereiro. Id. (1900), Ponta Delgada, n.º 182, 27 de Maio. Id. (1901), Ponta Delgada, n.º 238, 24 de Junho.