Jornal publicado na Ribeira Grande, foi seu director e editor o padre Cristiano de Jesus Borges e seus administradores Manuel António Frias Coutinho, Guilherme do Rego Teixeira e Manuel do Rego Teixeira. Era impresso na Typographia Elzeviriana do Norte. A partir de Fevereiro de 1900, passa a constar do cabeçalho a morada dos escritórios da redacção, da administração e tipografia, sitos ao Largo de Gaspar Frutuoso.
No seu primeiro número, de 18 de Maio de 1895, apresenta-se como um jornal que se afasta «das normas geralmente seguidas pelo jornalismo nos modos de apresentação», escusando-se de traçar caminhos pré-definidos no seu programa na certeza de que «é sempre melhor dizer no fim o que positivamente se fez que afirmar no principio o que muito contingentemente se há de fazer». Constatava, porém, que o «jornal não é politico», nem se desenvolvia «à sombra dos pendões de nenhum partido». Apesar da sua manifestação de isenção, não escapa à atenção a defesa dos assuntos religiosos, como é exemplo a notícia da visita que o bispo de Angra e dos Açores efectuou à Ribeira Grande no dia 5 de Maio de 1899, dada em suplemento: «Homenagem de admiração e respeito ao Principe da Egreja Açoreana. O Norte, folha consagrada aos interesses religiosos na importante e famosa ilha de São Miguel, sahe extraordinariamente a cumprimentar, na sua passagem por esta villa, o Chefe espiritual do vasto archipelago dos Açores».
Em 1901, face ao desenvolvimento das teorias socialistas e republicanas, o jornal expressaria a sua vertente monárquica aquando da visita régia efectuada por D. Carlos e D. Amélia a S. Miguel, inserindo no respectivo artigo que o povo micaelense cobria de «aclamações os soberanos em quem vê representado o princípio da authoridade suprema da nação».
O conservadorismo era a reacção corrente às novidades trazidas por aquelas novas teorias sociais. O sufrágio universal, por exemplo, seria descrito como «uma mentira universal» e a atitude correcta face a essa mudança era a restrição do sufrágio «limitando-o aos cidadãos de responsabilidade definida». E não havia dúvida em apontá-lo como causa da «grande desmoralização de povos e governos».
O mesmo tipo de tratamento teria, mais tarde, temas como a validade dos casamentos civis entre católicos ou as celebrações do 1.º de Maio. Neste último caso, um artigo em particular começava por afirmar que «o trabalho é uma grande virtude e o trabalhador um grande benemérito», no entanto, depressa se enquadrava e distinguia o tipo de comemoração e o tipo de trabalhador micaelense: «O operario michaelense é crente e é christão. [...] Acceitando estes principios, os nossos operarios afastam-se da doutrina assustadora apregoada pela revolução social e mantem-se, á sombra da idéa religiosa, no campo onde, em cada dia, alcançarão novos triumphos para a sua nobre causa de justiça e de relativa igualdade».
O último número de O Norte data de 2 de Maio de 1903 (n.º 416), depois de oito anos de publicação. No ano anterior, o jornal A Nova já anunciara a retirada do padre Cristiano de Jesus Borges das lides jornalísticas, referindo a sua nomeação para o cargo de cónego da Sé Catedral de Angra e lamentando a «saída do valente campião da imprensa michaelense, onde occupou o seu lugar com esmerada distinção, observando sempre a mais franca e leal camaradagem». Ana C. Moscatel Pereira
Bibl. O Norte (1895-1903), Ribeira Grande. A Nova (1902), Ponta Delgada, 27, 23 de Novembro. Teodoro, H. M. M. (2005), De Asilo de Rapazes a Centro de Apoio Social e Acolhimento ? 125 anos de vida. Ribeira Grande, Centro de Apoio Social e Acolhimento: 37.