Jornal editado na Povoação, concelho da ilha de S. Miguel, o seu primeiro número data de 15 de Abril de 1922. Foi seu proprietário, director e editor José António Lopes até Janeiro de 1925, altura em que assumiu a direcção Bruno Botelho, continuando, no entanto, aquele a acumular a propriedade e a edição. A sua administração e impressão localizavam-se inicialmente no Largo do Theatro, na Povoação, até Setembro de 1922, data a partir da qual a administração e impressão passaram para a rua Direita. Em Junho de 1924 mudaram-se novamente, desta feita para o Largo da Praça Velha. Era publicado aos sábados.
No seu número de apresentação, O Notícias da Povoação proclama-se o porta-voz de todas as aspirações dos habitantes do concelho da Povoação, procurando «defender os interesses moraes e materiaes d?este concelho».
Transparecem claramente nas suas páginas duas grandes linhas directrizes: a defesa dos interesses do concelho e a desilusão com o recém implantado regime republicano face a um passado melhor e glorioso sob a égide da monarquia.
De facto, o jornal é peremptório quando afirma que, à data, não havia «ninguem [...] quem nutra ilusões, n?este concelho, ácerca do regimen» e não hesita em exaltar as velhas glórias portuguesas logo no seu primeiro número: «Pela Religião e Patria dos nossos maiores! Pelo Regimen sob cuja vigencia nos engrandecêmos perante todos os Povos!». Muitos são os artigos relativos à monarquia, principalmente referentes às tentativas dos partidos monárquicos retomarem poderes: «[...] basta notar o ardôr com que por toda a parte se trabalha na reorganização monarchica e a frequencia com que, no campo republicano, se dão as deserções, para as hostes monarchicas, de elementos do mais subido valor, para termos como proximo o Advento da Monarchia».
Defensor da Igreja e do catolicismo, O Notícias da Povoação também inseria nas suas colunas artigos onde se classificavam de forma negativa quaisquer valores e ideais que deles se afastassem: «Liberdade. Assim se chama, nos tempos luminosos que vamos atravessando, as violencias e vexames que tem sofrido em Portugal a religião Catholica».
O segundo ponto mais focado nos artigos do jornal era, de facto, o interesse do concelho da Povoação. Face à desigualdade de investimentos nos diferentes concelhos da ilha e ao alegado esquecimento do da Povoação, O Notícias não deixava escapar qualquer pormenor. É exemplo disso um artigo referente a uns trabalhos rodoviários onde se descrevem diversas dificuldades sentidas pelos habitantes da Povoação, nomeadamente no que diz respeito aos transportes: «Activem-se, intensifiquem-se os trabalhos dos Ramaes para Agua Retorta e Ribeira Quente, aonde ainda se vae, por vergonha nossa, no classico gerico, fazendo-se viagem em certas quadras do anno que são um verdadeiro tormento, com risco de propria vida, principalmente para a Ribeira Quente motivo porque nenhum medico quer exercer clinica n?este Concelho! E? preciso que aquellas duas importantes localidades tenham facil e comoda comunicação com a sede do concelho. E? d?isto que a Povoação carece urgentemente: é isto o que em seu nome e interesse reclamamos: é isto, de resto, (que o notem bem os nossos procuradores à Junta), o que deveria procurar conseguir-se da Junta Geral se bem estivessem possuidos do mandato que lhes foi confiado e tivessem consciencia e noção das nossas necessidades».
O Notícias da Povoação terá terminado a sua circulação em 1925. Ana C. Moscatel Pereira
Bibl. O Notícias da Povoação (1922-1925), Povoação.