Segundo deste nome, o Opinião Pública foi publicado em Ponta Delgada, na Tipografia Açoriana, rua da Esperança, n.º 33. Foi seu editor responsável João Ignacio Peixoto. Muitos dos seus colaboradores e redactores eram militares, de Caçadores 11, dos quais salientamos o alferes António Emílio de Figueiredo e Mello, o tenente António Joaquim Domingues, o tenente Duarte e o tenente Geraldes, bem como o alferes Joaquim Zeferino de Sequeira Moraes, da Administração Militar.
O Opinião Pública, «obscuro filho do povo, que sentou praça voluntario no pequeno regimento, mas, valente batalhador do Bem contra o Mal», apesar de defender uma isenção política, não se abstém da crítica social e política a tudo e todos que considerar em erro: «Primeiramente está dito, e repetimos ainda hoje, que a Opinião Pública não se acha filiada em nenhum dos partidos políticos michaelenses [...]. [...] declaramos muito cathegoricamente, que somos partidarios da ordem, do acatamento pelas auctoridades legalmente constituidas, do amor pela justiça, do respeito pela religião, da consideração pelos superiores, da familiariedade com os iguaes, da benevolencia, e lhaneza com os inferiores, e das boas relações para com todos: todavia esta nossa profissão de fé, não exclue a reacção energica contra aquelles, que por seus caprichos desarrezoados não querem comprehender-nos, como aliás deviam, e nós tinhamos direito o esperar. [...]»
De facto, o seu aparecimento não passou despercebido. Usando de linguagem agressiva, envolveu-se em temas polémicos desde o primeiro número. No seu segundo número, o jornal fala de uma «guerra surda [...] contra a recem nascida Opinião Pública»: «A quadra combatente, consultando as prophecias do seu bandarra resolveu em secreta conclave, e veiu rebuçada esperar-nos à incruzilhada das viellas, pela noite do rancor, armada de laço para nos suffocar a voz. Felizmente soubemos do ardil, e desviámos a tempo, por esta primeira vez, a cabeça ameaçada, de forma que ainda aqui estamos vivos, e sãos, esperando que provavelmente há de vir». As ameaças e polémica derivaram de temas abordados pelo jornal no seu primeiro número, que atacaram poderes instituídos e interesses económicos, como seja a abertura da fábrica de destilação da Lagoa que, dizia o jornal, «será uma protecção aos monopolistas».
E é o próprio jornal que compra a briga com esses poderes instituídos quando os identifica publicamente e coloca a questão da seguinte forma: «A Opinião Pública [...] apparecerá sempre qual outro fantasma a perseguil-os constantemente: e visto que o pômo da discordia são, a fábrica, e os demais monopolios, ou elles, ou nós».
Outro tema de discórdia foi o ataque a alguns funcionários públicos e à sua postura: «Segundo o modo de ver da famosa quadra não é licito a um cidadão qualquer, no perfeito gozo dos seus direitos civis e politicos, apreciar louvando ou censurando actos publicos dos funccionários do estado! E? a nova lei da rolha, estabelecida pelo posso, quero e mando de quatro entidades irrisórias. [...]».
Mas a polémica que envolvia o Opinião Pública não se reportava somente aos temas falados, mas também à forma e linguagem que escolhia para os abordar: «Mas quem são os nossos acusadores e perseguidores? Um pateta, um petit bresford, um jesuita e um ex-sotaina; duas parelhas, que por ahi se pavoneiam atravez de uma multidão, que os olha encolhendo os hombros».
Essa linguagem e ataques mais ou menos pessoais valeram ao jornal problemas legais, como, por exemplo, uma sindicância. Mas apesar dos processos, o jornal não deixava de enviar as suas mensagens e continuar com o mesmo tipo de linguagem: «Uma cyndicancia, para que, e por que? Para satisfazer paixões pequeninas de pequenissimas almas emberecidas n?uma authoridade muito discutivel e contestada. Há ou não offensa nas linhas que traçámos? Se sim, lá está a lei, o tribunal executor d?ella. Se não, que mascarada é esta? Estamos em S. Miguel ou em terra de cafres? [...] Pois que! São patetas, ?petit bresfords?, jesuitas, ex-sotainas, Rechelieus, Actos, Aramis, Bambolés, Pierreffous, tolos, idiotas? Não os consideramos tão ingenuos, que venham publicamente confessar que são tudo isso. Mas se o confessam ... [...] Cansados e aborrecidos de uma questão lâna-caprina, esperamos para o proximo numero ter mais pachorra para a desenvolver».
Para além da sindicância, os seus «adversários» recorreram a outros meios, como a transferência dos militares que eram seus redactores para outras zonas do país, o que, eventualmente, terá levado ao final da sua publicação a 31 de Dezembro de 1882. Não obstante, a irreverência do jornal não deixou de imprimir nas suas páginas as tentativas indirectas de acabar com a sua publicação: «Pois meus srs., podem descançar, podem empregar outras armas, podem mesmo mandar-nos para o inferno, porque de lá, ou d?outra parte ainda mais longe, diremos a verdade». Aliás, essas tentativas de transferências ficaram registadas numa carta enviada à redacção do jornal pelo alferes Joaquim Zeferino de Sequeira Moraes, colaborador, que afirmava que «alguem a quem incommoda esta publicação, que aliás se mantem no auge da sua seriedade, pretende, servindo-se de meios menos dignos, promover a sahida d?estes individuos d?esta ilha, para o continente, lançando para tanto mão de inffluencias politicas [...]». Ana C. Moscatel Pereira
Bibl. Imprensa Periódica dos Açores (1982) In Arquivo dos Açores. Ponta Delgada, Universidade dos Açores, VIII. Opinião Pública (1882), Ponta Delgada.