Órgão do Partido Popular, o seu primeiro número data de 2 de Agosto de 1875. Foi seu editor responsável e redactor José Augusto da Costa Rezende, anteriormente membro do Diário dos Açores, embora, a partir de Novembro de 1877, o seu nome tenha desaparecido do cabeçalho d?O Partido Popular. Foram igualmente seus editores Júlio da Encarnação Machado e João António.
O jornal imprimiu-se originalmente na Tipografia Açoriana, de Manoel Corrêa Botelho, na rua da Esperança, n.º 35, mas, a partir do seu número 14, de Janeiro de 1876, passou a imprimir-se na Tipografia do Partido Popular, que funcionou na rua de São Francisco, n.º 76 (até Outubro de 1876), na rua Direita da Fonte, n.os 59, 61 e 63 (até Novembro de 1877), na rua de Santa Bárbara (até Julho de 1878) e na rua do Valverde, n.º 64.
Na apresentação do seu programa, O Partido Popular apresentou-se como «um novo campeão liberal» e como «órgão do Partido Popular», cujo fim era difundir as ideias daquele partido político e defender os seus interesses, prometendo respeitar todas as situações políticas legalmente instituídas, «com tanto que se não attente contra os legitimos interesses da localidade». A sua principal preocupação seria a defesa dos interesses do distrito e do arquipélago, uma vez que o «partido popular, d?origem michaelense, e organisado para estabelecer o imperio das leis constitucionaes n?esta parte da monarchia [...] é uma entidade politica que tem a sua esphera d?acção limitada a circunstancias locaes [...]».
Porém, o jornal foi tudo menos polémico. De facto, se os seus artigos se demonstraram agressivos desde o início, a partir do suplemento que se fez ao n.º 13 (3 de Novembro de 1875) iniciou uma linha agressiva de actuação baseada em ataques pessoais e institucionais a diversas personalidades locais. Naquele suplemento, impresso já na Tipografia do Partido Popular, denunciava-se uma manifestação que tivera início depois de se saber o resultado das eleições municipais no concelho de Ponta Delgada: «desde o enoutecer até ao romper da madrugada, um grupo de individuos, em numero superior a vinte, quasi todos dos chamados de gravata lavada, e mais ou menos embriagados, entrou a percorrer as ruas da cidade [...]. A turba-multa tomou por alvo das suas provocações as casas de residencia dos srs. dr. Henrique Ferreira de Paula Medeiros, José Machado Estrella e António Jacinto Botelho, contra os quaes soltaram morras e proferiram outros improperios [...]».
Mas, não se contentando com a descrição do acontecimento, Costa Rezende vai mais longe e declara publicamente que as próprias autoridades administrativas e outros grandes nomes da sociedade micaelense estiveram associados àquela manifestação. Foi o caso do governador civil, a quem chamou de «espirito faccioso», acusado de «sanccionar similhantes desacatos» e de «prevenido do que se passava com larga antecipação» se «postar em frente da rua do seu compradre e ex-amigo sr. Paula de Medeiros». Foi igualmente o caso do Barão da Fonte Bella (Jacinto), acusado de ter sido o mentor da dita manifestação («quem promoveu o tumultuoso e repugnante espectaculo que se deu nas ruas d?esta cidade»). E depois das acusações, Costa Resende reclama ainda justiça para julgar o caso, afirmando que «o barão de Fonte Bella (Jacintho) deve ser submetido aos tribunaes pelo que acaba de praticar». Justificava, finalmente, a publicação do dito suplemento, afirmando que «consignando estes factos pela imprensa, o nosso fim principal é que o author e co-reus dos attentados commettidos na noite de 8 para 9 d?este mez, não fiquem impunes».
Este suplemento valeu-lhe sérios problemas. Depois de ter estado suspensa a publicação do jornal durante cerca de dois meses e de ter mudado de tipografia, devido a pressões infligidas ao proprietário da Tipografia Açoriana, O Partido Popular volta à carga: «Eis novamente em campo ? O Partido Popular. Liberal às direitas, como d?antes, velho amigo da verdade, como sempre, e mais que nunca independente e esforçado, a sua política é sempre a mesma, e será no futuro a que foi no passado, pois trilhamos conscientemente a espinhosa carreira jornalistica. É que as nossas convicções não mudam [...]».
E, apesar das dificuldades que lhe trouxe a publicação do dito suplemento, o jornal voltaria a publicar outro, desta feita ao número 104, de 4 de Outubro de 1877, onde, a propósito do aparecimento do nome do Visconde das Laranjeiras como membro do Partido Popular num suplemento do Diário dos Açores, Costa Rezendes ataca o Visconde e a sua súbita filiação no Partido: «Seremos ainda generosos até ao ponto de fingir que não conhecemos que a admissão de s. ex.ª no partido é que deu logar às divergencias que o dividiram e enfraqueceram. [...] Eleitores! A verdade é esta. [...] Eleitores! Recusae o voto a listas que vos são impostas por conveniencias meramente particulares».
O jornal suspenderia a sua publicação a 15 de Novembro de 1877, para reiniciar com uma segunda série a 11 de Fevereiro de 1878.
A sua forma de jornalismo valeu-lhe muitos inimigos, como o próprio jornal reconheceria em número de aniversário, a 10 de Agosto de 1878, depois de reiterar o seu programa inicial: «Tem-nos elle acarretado alguns inimigos, porque não há maior injuria do que a verdade quando ella vae d?encontro a interesses mesquinhos, ou quando molesta falsas apparencias».
A sua última luta foi contra o jornal Diário dos Açores e, pessoalmente, contra o seu proprietário, Manuel Augusto de Tavares Resende. A partir de finais de 1877 e até ao final da sua publicação, O Partido Popular referia-se diariamente àquele jornal. Começando por criticar a postura do Diário dos Açores face à ideia de separação do arquipélago açoriano do continente português, caracteriza-o como um «despejadouro d?uma sanhuda politica de berreiros e de bombasticas declamações» e acusa-o de pretender «despedaçar os laços de fraternidade que prendem este povo a seus irmãos do continente».
Mas a questão com o Diário dos Açores toma contornos mais pessoais a partir do número 134 (10 de Agosto de 1878), quando Costa Rezende, apelidando o outro jornal de «Diarinho», insulta Manuel Augusto de Tavares Resendes, referindo-se ao seu passado em comum: «Que póde dizer em nosso prejuizo uma creatura que não há muito medrava á sombra da nossa boa reputação, e que então era até capaz de nos beijar... os pés?! O ingrato é o ser mais despresivel da sociedade. [...] Que podemos esperar d?uma alma lodosa, d?um coração abjecto, d?um caracter venal, que tudo sacrifica ao vil interesse?». Num outro número ainda avança a seguinte mensagem: «cerebro tacanho e obtuso, onde a imaginação é nulla. [...] Jornaleiro porque te mettes a jornalista?».
A questão pessoal que Costa Resendes manteve com o director do Diário dos Açores monopolizou quase todos os números d?O Partido Popular daí para a frente. Depois de acusar Tavares de Resendes de ter maltratado o pai em público, acto que aquele jornalista desmentiu no Diário dos Açores, Costa Resendes viu-se envolvido em mais um processo judicial. No número 152, datado de 26 de Dezembro de 1878, depois de 12 dias de interrupção, a redacção apenas publica o seguinte: «Pedimos desculpa aos nossos benevolos assignantes da demora que houve na saida d?este numero, motivada pela mudança. Na presente occasião enviamos pela primeira vez o nosso jornal a algumas pessoas, na expectativa de que se dignarão obsequiar-nos com a sua assignatura».
O jornal terá terminado a sua publicação com o número 166, de 19 de Abril de 1879, apesar de, em Março de 1880, o jornal O Noticiarista, ao dar conta de que Costa Resende estava prestes a estabelecer nova residência em Lisboa, referir-se a ele ainda como o «intelligente e illustrado redactor do Partido Popular». Ana C. Moscatel Pereira
Bibl. Andrade, M. J. (1994), Jornais Centenários dos Açores. Ponta Delgada, Presidência do Governo da Região Autónoma dos Açores/Gabinete do Subsecretário Regional da Comunicação Social: 15, 69. Imprensa Periódica dos Açores (1982) In Arquivo dos Açores. Ponta Delgada, Universidade dos Açores, VIII. O Noticiarista (1880), Ponta Delgada, n.º 1, 3 de Março. O Partido Popular (1875-1878), Ponta Delgada.