Jornal diário de Ponta Delgada, intitulava-se A Republica. Diário da Manhã e iniciou a sua circulação no dia 4 de Abril de 1911, continuando um projecto anterior, do mesmo nome, que havia começado em 1910.
Foi seu redactor principal Carlos J. Borges, até Julho de 1911, data em que passa a desempenhar aquela função Miguel S. Alvim. Até Janeiro de 1912 foi editor C. d?Oliveira, data em que assume Jacinto S. Cardoso, e até Junho de 1912 foi seu administrador Mira Saraiva, até assumir a administração H. Vasconcelos. Em Junho de 1914 assume a direcção do jornal Francisco Luís Tavares, desaparecendo o nome de Alvim, mas mantendo-se a edição de Jacinto Cardoso. Em Maio de 1919, devido ao facto de Francisco Tavares ter sido eleito deputado, aparece, temporariamente, como director Carlos C. Rodrigues para, em Outubro daquele mesmo ano, passar a constar o nome de J. Cândido Teixeira naquele papel.
Propriedade da Empreza do jornal A Republica, era impresso e composto em tipografia própria, na rua da Fonte Velha, n.º 49, a mesma morada da sua redacção e administração.
O jornal sofreu, em termos gráficos, apenas uma grande alteração estética e estrutural, em Outubro de 1919, quando «refundiu por completo o seu material tipográfico, apresentando [...] um magnifico aspecto, realçado pela criação de novas secções e remodelação das antigas».
Na sua apresentação dizia-se um jornal «inteiramente refundido, impresso em officinas próprias, com um novo corpo redactorial» e, comparando-se ao seu antecessor, referia que «o nosso diario quasi que só tem de commum o titulo, com o bi-semanario que ahi se publicava». Fundado apenas seis meses depois da implantação do regime republicano, apareceu, «por uma necessidade do meio e do momento», somente para a «republicanização d?este districto». O seu objectivo foi «servir com lealdade e com sacrificio [...] a causa da Patria e da República», acompanhando sempre o «crescimento da Democracia Portugueza» e os «interesses legitimos desta linda terra de S. Miguel».
Muitos foram os temas que passaram pelas suas páginas. A implementação do regime republicano da ilha de S. Miguel, a Lei da Separação, considerada como a arma ideal para combater o clericanismo («manifestação do banditismo internacional»), as manifestações populares em S. Miguel a favor da República e contra o Clero («vivo protesto contra o maior inimigo da nossa independencia ? a reacção clerical»), o desenrolar da I Grande Guerra Mundial, descrevendo ataques de submarinos às costas da ilha de S. Miguel, por exemplo, ou comentando o facto dos tipógrafos do jornal terem sido chamados para comparecer à Instrução Militar Preparatória...
De facto, pelas suas páginas transparece o evoluir dos partidos e ideais republicanos, vicissitude que afectou a própria postura do jornal. Em Abril de 1916, ao comemorar o sexto ano de existência, A República chamava a atenção para o facto de «quando os partidos se diferenciaram e a obra realisada não era de molde a obter a solidariedade de todos os republicanos, exgotados todos os meios de a conformar-mos com a nossa consciencia, marcámos o nosso logar ao lado da União Republicana».
A República terminou com o número 2.688, de 4 de Abril de 1920. A justificação para esse final deveu-se a «circunstancias de ordem geral e particular», afirmando o seu responsável que lhe crescia «um vehemente desejo» de se refugiar «no campo teorico dos principios, onde ressalta toda a sua beleza moral, uma crescente inibição da vontade para apreciar os factos políticos, que decorrem». Na hora da despedida o jornal expressa «um sentimento indeciso de desgosto e de libertação» depois de nove anos de «luta e fé, vividos dia a dia na comunhão dum ideal», na firme crença de que «o republicanismo e a democracia constituem uma imperiosa exigencia do nosso espirito e da nossa formação moral». Ana C. Moscatel Pereira
Bibl. A Republica (1911-1920), Ponta Delgada.