Caraterização:
Os capachos de folha de milho são os mais caraterísticos da ilha de São Miguel. Implicam um modo de produção constituído por várias fases, nomeadamente a seleção das folhas, a respetiva secagem e desfiação, a aplicação de cor através de processos de tinturaria caseira, o entrançamento, e, por fim, o coser das tiras entrelaçadas com fio de espadana. As cores utilizadas para tingir as folhas eram garridas, predominando o amarelo, o cor-de-rosa e o verde. Para o efeito da desfiação, utilizava-se uma tábua larga com cinco ou seis pregos grandes com a ponta virada para cima -o ripanço- com a qual se rasgava a folha em tiras muito fininhas, formando pequenos molhos, que eram amarrados com fio de espadana para serem tingidos.
A folha de milho mais escura, ou a folha preta, era molhada para se fazer a trança na qual se coziam, com fio de espadana, as folhas brancas ou coloridas, obtendo-se motivos geométricos simples, mas muito alegres.
Uma habitação podia ter vários capachos: um à entrada da casa, outros à entrada dos quartos e outro à porta do quintal.
O milho depois de colhido, em setembro, era guardado nos cafuões sendo utilizado ao longo do ano. As folhas mais grossas eram alimento do gado. Com as folhas mais tenras é que se faziam os tapetes, ou produziam outros artefactos. Normalmente, esta era uma tarefa das mulheres. Hoje, ainda há muitas senhoras (na faixa etária dos 60, 70 e 80 anos) que sabem fazer tapetes de folha de milho, no entanto, estes já não são usados como capachos, ganharam um outro estatuto meramente decorativo que tem vindo a ser valorizado com a economia do turismo.
Historial:
O milho, originário da América do Sul, foi introduzido nos Açores no século XVI, foi uma das culturas predominantes nestas ilhas. Outrora importante recurso nutricional, hoje continua a ter um lugar importante na gastronomia, contudo mais simbólico do que nutricional.
As condições naturais das ilhas dos Açores: climáticas e o tipo de solos são favoráveis a esta cultura.
Desde muito cedo, o povo destas ilhas começou a produzir artefactos em fibras têxteis, com funções utilitárias, decorativas e até de entretenimento infantil. Eram principalmente as mulheres que elaboravam os capachos.
Era da agricultura que vinha, indiretamente, mas em grande abundância, matéria-prima para os mais diversos artefactos, uns de natureza funcional como os capachos, as vassouras e os chapéus e, outros, de natureza decorativa e lúdica, como as flores e as bonecas.
Embora esta atividade nunca tenha conhecido grande desenvolvimento, a utilização de capachos e esteiras no interior doméstico rural ou em trabalhos agrícolas foi considerável.
Os capachos e as esteiras eram utilizados para as pessoas se sentarem no chão, no interior das casas, onde tomavam as refeições e passavam o serão, e junto à porta da rua e do quintal, onde ficavam algum tempo a conversar e onde realizavam algumas tarefas domésticas como, no caso das mulheres, costurar e bordar.
Mas era na ocasião das festas que os novos e coloridos capachos de folha de milho, eram colocados à entrada das portas da casa.
No que diz respeito aos trabalhos agrícolas, as esteiras eram utilizadas para colocar o milho a secar ao sol, servindo também de assento quando se realizavam tarefas como escolher feijões, debulhar milho ou tirar a vagem das favas e das ervilhas. Estas peças eram ainda utilizadas para forrar o leito do carro de bois ou a caixa das carroças, quando iam mulheres e crianças no seu interior.
Atualmente, os capachos e esteiras de fibras vegetais integram o artesanato regional, sendo os artesãos de hoje repositórios vivos destas artes tradicionais, transmitidas de geração em geração.