Caraterização:
A espadana ou linho-da-Nova-Zelândia é o nome atribuído à espécie botânica denominada Phormium Tenax, pertencente à família Lillaceae.
Carateriza-se por ser uma planta herbácea de fibras muito resistentes, apresenta uma raiz carnosa, tuberosa e as suas folhas são longas de cor verde intenso, podendo chegar a atingir entre 1,5 metros a 2 metros de cumprimento, sendo na forma, muito semelhantes à lâmina de uma espada.
Este tipo de espécie vegetal desenvolve-se e floresce bem em terrenos próximos do mar e com grau elevado de humidade. Em conformidade com esta afirmação, também o primeiro jornal agrícola português editado em São Miguel - “O Agricultor Michaelense” – no seu número de abril de 1848, ao chamar a atenção para a cultura desta planta útil, relata o seguinte: “O Phormium Tenax dá-se em quase todas as partes, porém folga mais com vales e sítios um tanto húmidos.”.
É uma planta que tem folhas durante todo o ano. Conhecida na ilha de São Miguel pelos nomes comuns de “tabua”, “amarradeira”, “atadeira”, “arremadeira”. Na ilha de São Jorge, designam-na de “carriola”, na Terceira, “filaça” e na Graciosa “piteira”.
Esta planta têxtil, serve de matéria-prima ao fabrico de panos, cordas, chapéus, capachos, flores e tantos outros artefactos.
Bento Silva, natural dos Arrifes, Ponta Delgada, aprendeu com o pai vários ofícios ligados à terra, nomeadamente o trabalho dos vimes. Entretanto, há cerca de sete anos, começou também a produzir objetos em espadana. Referiu-nos que iniciou a realização dos trabalhos em espadana por si próprio. Imagina as peças e cria-as.
Quando tem oportunidade é na sua moradia que produz “e dá vida” aos seus objetos, tal como nos frisou “sempre em horas que, por exemplo, se o tempo não der para trabalhar na agricultura, nesses momentos eu dedico-me a esses trabalhos, aos fins-de-semana e ao serão também”.
A produção de peças artesanais em espadana pressupõe um processo dividido em várias fases. Bento Silva refere que, em primeiro lugar, a espadana a utilizar para a produção de qualquer artefacto tem que estar verde, pois se estiver seca ao trabalhá-la irá quebrar-se rapidamente. Para iniciar a elaboração de uma peça, numa primeira fase, devem-se rachar as folhas da espadana, isto é, tem de se as abrir para libertarem a seiva, em seguida deixam-se secar. Depois de rachadas, e com a seiva já seca, faz-se a trança. Realizada a trança começa-se a criar o capacho ou qualquer outro artefacto, construindo a sua forma e cosendo-a com uma agulha forte e com fio de espadana. Como se trata de uma matéria-prima de origem vegetal, após os produtos artesanais estarem concluídos, interessa assegurar a sua preservação e conservação. Neste sentido, quando as peças estão terminadas, o artesão pincela-as com verniz para uma melhor proteção e durabilidade.
Historial:
Originária da Nova Zelândia, da ilha de Norfolk, a espadana foi introduzida em Portugal em 1798 pelo abade José Correia da Serra (1750-1823), um dos fundadores da Academia das Ciências de Lisboa. Quanto à sua introdução nos Açores, a primeira ilha em que foi introduzida foi em São Miguel, no século XIX, graças à ação de Francisco Soeiro Lopes de Amorim, no ano de 1828.
Rapidamente difundida pelos vários terrenos da ilha, a espadana começou a ser alvo de atenção por parte do povo micaelense. Num espaço de tempo de 20 anos, isto é, em 1848 a Sociedade Promotora de Agricultura Micaelense (SPAM) começou a dedicar uma atenção especial a esta cultura. Contudo, apenas em 1880 é que esta espécie começou a revelar interesse industrial para os micaelenses, ano em que chegou à ilha uma máquina desfibradora de espadana, por iniciativa de José Bensaúde (1835-1922) e de José Jácome Correia (1816-1886). Esta máquina foi instalada em Ponta Delgada para trabalhar as plantas que José Bensaúde tinha cultivado em terrenos seus na Serra de Água de Pau. Nestas circunstâncias, também Guilherme Read Cabral (1821-1897) tentou obter capitais para investir no aproveitamento industrial destas fibras vegetais. Em 1898 esta indústria sofreu um enorme incremento. No início do século XX, exatamente em 1930, existiam sete fábricas de desfibração de espadana em São Miguel. Atualmente esta indústria já não existe na ilha, contudo a planta continua a ser cultivada, pois além de ornamental, é utilizada no fabrico de objetos artesanais e ornamentais, como o caso aqui exposto, a espadana é também usada para fazer os “cinchos” utilizados na produção de queijos frescos. Esta planta útil é também utilizada para atar os manchos das “novidades da terra”, bem como para amarrar vinha, entre outros usos.
Para finalizar, importa ressalvar que, segundo vários artigos, datados desde finais do século XIX até meados do século XX, a indústria da espadana representou em São Miguel um capítulo económico da maior importância. No entanto, com o surgimento da fabricação de tecidos e de outros utensílios obtidos através de fibras sintéticas, esta indústria acabou por desaparecer.
Cinchos: são formas circulares feitas tradicionalmente em folha de espadana, para enformar os queijos frescos.