Caracterização:
O Carnaval da ilha Graciosa é uma manifestação popular intensamente vivida pela maioria dos graciosenses. Ainda hoje, embora mais modernizado, o carnaval tem expressão e é vivido intensamente pelos graciosenses. É essencialmente de salão, em que os bailes, as fantasias individuais e de grupo têm um lugar importante nos dias de entrudo. Esta manifestação popular surge das tradições e costumes, é intergeracional e é transmitida de geração em geração, principalmente de forma oral.
A partir do início do ano e até à semana de carnaval, existe um período preparatório em que se realizam bailes no fim-de-semana, que presentemente na sua maioria são jantares seguidos de bailes, promovidos pelas coletividades, antecipando a festa que se avizinha nesta altura do ano. Neste período, os dirigentes das coletividades e os candidatos a figurantes preparam-se para a festa, adquirindo as fantasias/trajes no mercado nacional, ou então, adquirindo tecidos que podem ser confecionados pelos próprios, pelos familiares, ou com o recurso a uma costureira. Simultaneamente, nos clubes, preparam-se os temas diversos das fantasias de grupo e procede-se aos ensaios das coreografias destas fantasias. Em cada ano o número de fantasias de grupo nos clubes é variável, podendo ser uma, duas ou três, dependendo do empenho dos diretores e do interesse dos “foliões”.
Ainda neste período, um número restrito de clubes, integram nos seus bailes as Modas de Viola, constituídas pelas Modas Velhas e pelas Modas Novas.
A apresentação das fantasias de grupo, que ocorre nos bailes entre a 5ª Feira e a 2ª Feira “gorda”, nos oito clubes da ilha, são um dos pontos altos deste período festivo, bem como do Festival de Fantasias de Grupo que ocorre no Domingo “gordo”. Estas fantasias constituídas no mínimo por dez pares apresentam-se primeiro nos bailes do seu clube, depois visitam os outros clubes, onde apresentam as suas coreografias, e no Domingo “gordo” desfilam no pavilhão municipal.
Na 6ª Feira de manhã a Escola Básica e Secundária da Graciosa apresenta um desfile carnavalesco que percorre as principais artérias da Vila de Santa Cruz da Graciosa.
Nos últimos anos têm surgido um ou dois bailinhos de carnaval do tipo terceirense que começam a ensaiar antes do Natal e depois apresentam-se ao público nos salões das coletividades e lares de 3ª idade durante a semana do carnaval.
Historial:
O Carnaval graciosense acompanhou, de modo geral, a evolução do carnaval português, com os seus divertimentos de rua, nomeadamente as danças, mas também as festas em recintos fechados, em casas particulares e nalguns clubes, aparecendo nestes últimos algumas fantasias individuais e de grupo, às vezes acompanhadas por instrumentos musicais.
Segundo Norberto Pacheco (2019, p. 71), “vários tipos de danças apareceram nesta ilha: dança de arcos, de espadas, de fitas, entre outros. Também apareceram as danças de tema mais sério, religioso ou social, ou histórico. Estas em importação da Terceira, terra em que proliferam diversos géneros de danças e bailinhos”.
Sendo o Carnaval da Graciosa uma manifestação de grande expressão, no ano de 1989 foi constituída uma Organização da Semana do Carnaval que recuperou atividades carnavalescas de outrora, dinamizou uma série de eventos e divulgou este carnaval no exterior (Cunha, 1990).
No passado, os “bailhos” juntavam as pessoas desejosas de convívio. Ao som da viola e do cadenciado dos passos a sala enchia-se com a alegria das vozes dos homens e das mulheres. Estes cantares são uma herança do nosso povo, estão ainda muito vivos na geração mais antiga.