Governo dos Açores - Secretaria Regional da Educação, Ciência e Cultura - Direção Regional da Cultura

Património Cultural Imaterial dos Açores Sinalização



Identificação da Manifestação

Designação: Processos tradicionais de moagem - Ilha das Flores
Outras Designações:

Moer milho; Moer a moenda; Moagem do milho

Domínio: Competências no âmbito de processos e técnicas tradicionais
Categoria: Atividades transformadoras

Contexto Social

Comunidades, grupos ou indivíduos:

Maria de Fátima Noia Fortuna Serpa


Contexto Territorial

Ilha(s): Flores
Município(s): Lajes das Flores
Freguesia(s): Fajãzinha
Espaço: Moinho da Via da Água; Ribeira Grande; Fajãzinha Flores

Contexto Temporal

Periodicidade:

Durante todo o ano.


Caracterização da Manifestação

Caracterização e Historial:

Caracterização:



No presente, só há dois moinhos em funcionamento: o moinho do Mosteiro e o moinho da Via da Água, junto à Ribeira Grande. Escolhemos o último para objecto de estudo. O moinho tem num pequeno ribeiro, a Via da Água, integrado na vasta bacia hidrográfica da Fajãzinha, a sua fonte de energia. Na empena nascente do moinho está o poço, não mais que um pequeno açude, cujas margens foram emparedadas com betão, que funciona como câmara de carga ao armazenar uma grande quantidade de água. Na margem norte do poço rasgaram-se duas aberturas para a saída da água durante o período de inactividade do moinho. Estes pontos de descarga são fechados com pranchas de madeira, chamadas portões, quando se pretende moer e aberto(s) o(s) portão ou portões localizados na margem poente do poço que dão para outras tantas calhas que conduzem a água aos rodízios.



O moinho tem dois pisos em alvenaria, implantado em terreno desnivelado. A água entra na zona mais alta, acciona os rodízios e sai pela parte mais baixa. É no piso superior que estão instalados os dois pares de mós. O sistema motor é constituído por dois rodízios de doze penas situados no primeiro piso, localmente designado por inferno. O rodízio é composto por uma circunferência de madeira de cedro ou giesta onde se alojam doze penas, uma espécie de pás, em que a água embate e provoca o movimento. O rodízio é fixado num eixo de madeira de cedro de secção quadrangular. O aguilhão feito em sílex, montado na extremidade inferior do eixo, trabalha na pederneira, peça côncava também de sílex, que está encastrada na lavadeira, robusta trave de cedro ou giesta. Daqui sai o parafuso, uma haste de ferro, que termina num parafuso ajustável junto às mós e que determina o espaço entre estas. O eixo no seu terço superior é fendido e recebe o veio de ferro, que nessa extremidade é de secção quadrangular ou cuneiforme e é apertado por cunhas de madeira. O veio entra na bucha colocada em furo existente na mó inferior. A bucha é um cilindro de madeira de vime ou álamo porque são madeiras muito fibrosas e pouco densas que causam um atrito mínimo. A bucha é ajustada com cunhas de madeira de outra espécie para garantir um maior aperto e não desajustar com a trepidação. Passada a primeira mó, o veio entra no encaixe quadrangular da sobrelha existente na mó de cima, fazendo-a girar.



A moagem: A moagem começa com o fechar da moega, recipiente em madeira, com a forma de uma pirâmide quadrangular invertida, e o lançamento do milho no seu interior. Depois de abastecida retira-se a tábua e a calha de condução da água ao rodízio é aberta. O milho é conduzido da moega ao chapéu, espécie de funil feito de um chapéu de palha, existente no orifício da mó de cima, através de uma calha afunilada, presa à moega por três cordéis. A saída da calha mais alta resulta em menor quantidade de milho a cair e farinha mais fina; a saída da calha mais baixa permite maior queda de milho no chapéu e farinha mais areada. A mó mais levantada produz farinha ligeiramente areada e não faz boa massa. Se a pedra ficar muito baixa a farinha não sai e emola a pedra. Para desemolar é necessário ir ao parafuso e levantar um pouco mais a mó para a farinha voltar a sair. O moinho produz farinha e carolo que saem das mós directamente para a caixa. A farinha destina-se a papas e aos vários tipos de pão. O carolo é utilizado na alimentação de pequenos animais domésticos (pintos e leitões). O carolo do milho mal seco é utilizado na alimentação humana, na confecção de papas grossas.



A manutenção: Picar as mós é tarefa da responsabilidade de Maria de Fátima Serpa. Nos tempos de muito movimento as pedras tinham que ser picadas mensalmente, hoje podem sê-lo de forma mais espaçada. Para retirar as mós necessita da ajuda do marido. É necessário retirar a moega, levantar a mó de cima com uma barra de ferro e meter uns calços para depois retirá-la à mão do seu lugar. O manuseamento tem que ser feito com muito cuidado porque as “mós partem como vidro”. A picagem é feita do centro para fora sempre no mesmo sentido. No centro a picagem é mais espaçada para fazer o milho correr para a periferia. À medida que se avança para o fim da mó a picagem vai apertando para moer fino e deitar a farinha fora, na caixa. Nunca teve que mandar fazer uma mó. Lembra-se do pai falar que a pedra era procurada na ribeira. É um basalto poroso mas altamente rijo. As ferramentas fundamentais são a barra de ferro, o martelo para apertar as cunhas e as picadeiras para picar a pedra.



Historial:



O conhecimento sobre a moagem dos cereais veio com os primeiros povoadores porque o pão sempre foi a base da alimentação das gentes das Flores. Já nos finais de Quinhentos, entre os rendimentos da comenda, encontramos a renda de seis moinhos repartidos em igual número por cada concelho da ilha.



Até à década de setenta do séc. XX, a farinação do milho mostrava-se indispensável ao sustento de pessoas e animais. Com a melhoria das condições de vida resultantes das transformações políticas, económicas e sociais ocorridas neste período e com a mudança de uma agricultura de subsistência para a pecuária, as terras lavradias foram passando a pastagem e o cultivo do milho entrou em forte queda.



No presente, só há dois moinhos em funcionamento: o moinho do Mosteiro e o moinho da Via da Água, junto à Ribeira Grande.


Manifestações associadas: Confecção de pão.

Transmissão da Manifestação

Estado: Ativo
Modos: Oral

Identificação da Documentação de Suporte

Bibliografia:

DIAS, António Jorge, 1981, “Moinhos”, in Joel Serrão (direcção), Dicionário de História de Portugal, Porto, Livraria Figueirinhas

OLIVEIRA, Ernesto Veiga de; GALHANO, Fernando; PEREIRA, Benjamin, 1983, Tecnologia Tradicional Portuguesa - Sistemas de Moagem, Lisboa, Instituto Nacional de Investigação Científica, Centro de Estudos de Etnologia

GOMES, Francisco António Nunes Pimentel, 2003, A ilha das Flores: da redescoberta à actualidade (Subsídios para a sua história), Lajes das Flores, Câmara Municipal das Lajes das Flores

Registos fotográficos:

Conjunto de fotografias que documentam as principais fases da moagem.

Anexos:
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Património Associado

Imóvel:

Moinho de água.

Natural:

Via da Água, freguesia da Fajãzinha.


Registo criado por: Museu das Flores
Data do registo: 24-10-2014

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