Produção Artesanal de Chá Preto na Seara - Sete Cidades
A planta do chá é um arbusto de mediana dimensão, designada Camellia sinensis, pertencente à família das Camelliaceas, proveniente da China, caraterizada por ser muito ramificada e conservar sempre a sua verdura. Este arbusto atinge até pelo menos 15 metros de altura, apresentando as suas folhas 6 a 10 centímetros de comprimento e 3 de largura. A sua introdução em S. Miguel ocorreu nos finais do século XIX.
Judite da Silva Pavão é caseira da propriedade da Seara (Sete Cidades, S. Miguel), pertencente aos herdeiros de José Maria Álvares Cabral. Esta senhora vive na casa que foi a antiga oficina de produção do Chá Seara, criada cerca dos anos 30 do século XX. Judite da Silva Pavão, seu filho (João Alves) e sua nora (Anália Alves) continuam a manter as plantas de chá e a produzi-lo para seu consumo e para consumo da família dos proprietários.
A apanha das folhas de chá é feita à mão por Judite, pelo filho e pela nora entre os meses de março/abril e setembro/outubro. Depois da apanha as folhas passam à “casa de fabricação” sendo estendidas num grande tabuleiro, para não ficarem amontoadas e não aquecerem, depois são colocadas num local fresco e arejado para murcharem, ou seja, para se tornarem moles e flexíveis e aptas para o processo de enrolamento, é então que são colocadas no enrolador mecânico, "que funciona desde o tempo do Sr. Engenheiro" - disse-nos Judite. Depois do enrolamento, segue-se a oxidação/fermentação e depois a torra.
Contexto Histórico:
O Chá é uma bebida proveniente da China. Foram os portugueses os primeiros ocidentais a introduzi-lo na Europa, primeiro como planta medicinal, depois tornou-se uma bebida chique e cara e mais tarde uma bebida popular, hoje a segunda bebida mais consumida no mundo, depois da água.
Nos Açores sabe-se da existência da planta do chá, Camellia sinensis, desde finais do século XVIII, nomeadamente, na ilha Terceira. Segundo Gabriel D’Almeida (1892), a planta do chá foi introduzida na ilha de São Miguel cerca de 1833, consequência da “crise da laranja” e foi a Sociedade Promotora de Agricultura Micaelense que, em 1874, deu início aos ensaios relativos à preparação da cultura do chá. Esta Sociedade propôs-se contratar peritos orientais para virem a São Miguel ensinar as técnicas de cultivo e preparação do chá. No dia 5 de março de 1878, chegaram a São Miguel dois peritos chineses, o mestre manipulador Lau-a-Pan, e o intérprete e coadjutor Lau-a-Teng. Antecedendo a chegada destes dois homens, a sociedade montara uma fábrica para a exploração do chá, onde se apanharam folhas para realizar as primeiras experiências. A Sociedade Promotora de Agricultura Micaelense também encarregou o micaelense Raphael d’Almeida de estudar e acompanhar os trabalhos dos técnicos chineses, como também nomeou uma comissão com o fim de dirigir todos estes trabalhos.
No início do Século XX em São Miguel, existiam 8 grandes indústrias de chá e cerca de 37 pequenos proprietários com poucos ou nenhuns maquinismos para a manipulação do chá. A Fábrica de Chá Seara surge neste contexto, na segunda década do século XX, cerca dos anos 30, por ação de Francisco Álvares Cabral (1887-1947).