Governo dos Açores - Secretaria Regional da Educação, Ciência e Cultura - Direção Regional da Cultura

Património Cultural Imaterial dos Açores Sinalização



Identificação da Manifestação

Designação: Produção Artesanal de Chá Preto na Seara - Sete Cidades, Ilha de São Miguel
Outras Designações:

Chá Seara; Chá preto; Chá

Domínio: Competências no âmbito de processos e técnicas tradicionais
Categoria: Cozinha e alimentação

Contexto Social

Comunidades, grupos ou indivíduos:

A Produção Artesanal de Chá Preto na Seara é atualmente realizada por um pequeno grupo familiar composto pela caseira da propriedade Judite da Silva Pavão (81 anos), pelo seu filho João Alves (50 anos) e pela sua nora Anália Alves (44 anos).


Contexto Territorial

Ilha(s): São Miguel
Município(s): Ponta Delgada
Freguesia(s): Sete Cidades
Espaço: Seara

Contexto Temporal

Periodicidade:

A Produção Artesanal de Chá Preto na Seara, lugar pertencente à freguesia de Sete Cidades, é realizada com regularidade anual entre os meses de março e outubro.


Caracterização da Manifestação

Caracterização e Historial:

Produção Artesanal de Chá Preto na Seara - Sete Cidades



A planta do chá é um arbusto de mediana dimensão, designada Camellia sinensis, pertencente à família das Camelliaceas, proveniente da China, caraterizada por ser muito ramificada e conservar sempre a sua verdura. Este arbusto atinge até pelo menos 15 metros de altura, apresentando as suas folhas 6 a 10 centímetros de comprimento e 3 de largura. A sua introdução em S. Miguel ocorreu nos finais do século XIX.



Judite da Silva Pavão é caseira da propriedade da Seara (Sete Cidades, S. Miguel), pertencente aos herdeiros de José Maria Álvares Cabral. Esta senhora vive na casa que foi a antiga oficina de produção do Chá Seara, criada cerca dos anos 30 do século XX. Judite da Silva Pavão, seu filho (João Alves) e sua nora (Anália Alves) continuam a manter as plantas de chá e a produzi-lo para seu consumo e para consumo da família dos proprietários.



A apanha das folhas de chá é feita à mão por Judite, pelo filho e pela nora entre os meses de março/abril e setembro/outubro. Depois da apanha as folhas passam à “casa de fabricação” sendo estendidas num grande tabuleiro, para não ficarem amontoadas e não aquecerem, depois são colocadas num local fresco e arejado para murcharem, ou seja, para se tornarem moles e flexíveis e aptas para o processo de enrolamento, é então que são colocadas no enrolador mecânico, "que funciona desde o tempo do Sr. Engenheiro" - disse-nos Judite. Depois do enrolamento, segue-se a oxidação/fermentação e depois a torra.



Contexto Histórico:



O Chá é uma bebida proveniente da China. Foram os portugueses os primeiros ocidentais a  introduzi-lo na Europa, primeiro como planta medicinal, depois tornou-se uma bebida chique e cara e mais tarde uma bebida popular, hoje a segunda bebida mais consumida no mundo, depois da água.



Nos Açores sabe-se da existência da planta do chá, Camellia sinensis, desde finais do século XVIII, nomeadamente, na ilha Terceira. Segundo Gabriel D’Almeida (1892), a planta do chá foi introduzida na ilha de São Miguel cerca de 1833, consequência da “crise da laranja” e foi a Sociedade Promotora de Agricultura Micaelense que, em 1874, deu início aos ensaios relativos à  preparação da cultura do chá. Esta Sociedade propôs-se contratar peritos orientais para virem a São Miguel ensinar as técnicas de cultivo e preparação do chá. No dia 5 de março de 1878, chegaram a São Miguel dois peritos chineses, o mestre manipulador Lau-a-Pan, e o intérprete e coadjutor Lau-a-Teng. Antecedendo a chegada destes dois homens, a sociedade montara uma fábrica para a exploração do chá, onde se apanharam folhas para realizar as primeiras experiências. A Sociedade Promotora de Agricultura Micaelense também encarregou o micaelense Raphael d’Almeida de estudar e acompanhar os trabalhos dos técnicos chineses, como também nomeou uma comissão com o fim de dirigir todos estes trabalhos.



No início do Século XX em São Miguel,  existiam 8 grandes indústrias de chá e cerca de 37 pequenos proprietários com poucos ou nenhuns maquinismos para a manipulação do chá. A Fábrica de Chá Seara surge neste contexto, na segunda década do século XX, cerca dos anos 30, por ação de Francisco Álvares Cabral (1887-1947).



Transmissão da Manifestação

Estado: Ativo
Modos: Formal
Informal
Oral
Oral combinado com a escrita
Com recurso a objetos
Com recurso a edifícios
Em articulação com outras manifestações

Identificação da Documentação de Suporte

Bibliografia:

ARRUDA, Jorge, 2012, Verde Azul – Sete Cidades: Lendas, Contos e Factos, Ponta Delgada

D’ALMEIDA, Gabriel, 1892, Manual do Cultivador e Manipulador do Chá, Ponta Delgada: Typo-lytographia

MELO, Pedro Pascoal F. de, 2012, "Breve História da Cultura do Chá na Ilha de São Miguel, Açores", in Revista Oriente, Lisboa, 21, pp. 40-49

SOUSA, Sílvia Fonseca e & MELO, Pedro Pascoal Ferreira de (Coord.), 2012, Chá em S. Miguel. Cultura e Vivências, Ponta Delgada: Presidência do Governo dos Açores, Direção Regional da Cultura, Museu Carlos Machado, Confraria do Chá do Porto Formoso

Outros documentos escritos:

Entrevista realizada a Judite da Silva Pavão no dia 29 de outubro de 2014 (transcrição: 34 páginas).

Registos fotográficos:

Total de 122 fotografias registadas pela equipa PCI/MCM no dia 29 de outubro de 2014, e 2 fotografias pertencentes aos herdeiros de José Maria Àlvares Cabral.

Registos fílmicos:

Registo videográfico da entrevista realizada a Judite da Silva Pavão no dia 29 de outubro de 2014.

"Chá Seara", filme editado pela equipa PCI do Museu Carlos Machado, patente na exposição "Para Além da Paisagem - Sete Cidades", de 10 de julho a 6 de setembro de 2015.
Sinopse: Numa saída de campo às Sete Cidades, ficámos a conhecer a senhora Judite Pavão, que com a ajuda do filho e da nora continua a manter as plantas de chá e a produzir chá de uma forma artesanal, na fabriqueta da Seara.

Registos sonoros:

Gravação sonora da entrevista realizada a Judite da Silva Pavão no dia 29 de outubro de 2014, com a duração de  00:55:51 + 00:55:52 minutos.

Outra documentação:

História de vida de Judite da Silva Pavão (4 páginas).

Anexos:
  • © Casa em alvenaria de pedra da unidade fabril Chá Seara, Seara, Sete Cidades, início do Século XX

  • © Algumas pessoas nas plantações de Chá Seara, Seara, Sete Cidades, início do Século XX

  • © Casa em alvenaria de pedra da unidade fabril Chá Seara e habitação de Judite Pavão, Seara, Sete Cidades, 2014

  • © Traseiras da casa em alvenaria de pedra da unidade fabril Chá Seara e habitação de Judite Pavão, Seara, Sete Cidades, 2014

  • © Sala dos fornos secadores da unidade fabril Chá Seara, Seara, Sete Cidades, 2014

  • © Sala do enrolador mecânico da unidade fabril Chá Seara, Seara, Sete Cidades, 2014

  • © Judite Pavão junto ao enrolador mecânico na unidade fabril Chá Seara, Seara, Sete Cidades, 2014

  • © Judite Pavão nas plantações de Chá Seara, Seara, Sete Cidades, 2014

  • © Judite Pavão a apanhar folhas de chá, plantações de Chá Seara, Seara, Sete Cidades, 2014

  • © Judite Pavão a enrolar o chá, plantações de chá Seara, Seara, Sete Cidades, 2014

  • © Planta de chá Camellia sinensis, Seara, Sete Cidades, 2014


Património Associado


Registo criado por: Museu Carlos Machado
Data do registo: 16-12-2014

Retroceder »